"Américo Castro y el futuro de los españoles" (Cuadernos, Paris, n. 40, janeiro-fevereiro de 1960), ter refeito sua vida, fora da Espanha, descobrindo-se na plenitude do seu ser espanhol, diz ele: hispânico, poderia ter dito a "conciente y doliente de serlo". De sê-lo com relação ao passado e com relação ao presente e ao futuro; com relação a si próprio e com relação aos demais.
E aqui se ergue um problema de difícil solução: o de continuar um espanhol ou um português ou um brasileiro a fazer-se — em vez de se considerar definitivamente feito — sem desfazer-se; o de assimilar valores novos, decorrentes de situações novas, sem repudiar o essencial na tradição de valores dentro da qual nasceu; o de americanizar-se ou africanizar-se ou tropicalizar-se sem desispanizar-se ou deslusitanizar-se ou deseuropeizar-se; o de modernizar-se sem desispanizar-se ou deslusitanizar-se ou desbrasileirar-se; o de tropicalizar-se sem desispanizar-se ou deslusitanizar-se ou desbrasileirar-se; o de tecnocratizar-se sem desispanizar-se ou deslusitanizar-se ou desbrasileirar-se; o de atualizar suas tradições suscetíveis de atualização — inclusive sua tradição de lazer, de ócio, de tempo desocupado, para o qual se acham despreparados tantos povos progressistas, até agora ativistas, e já vítimas de uma sobrecarga de tempo desocupado que precisam de aprender com hispano-tropicais — principalmente, talvez, com brasileiros — a transformar em tempo lúdico contemplativo, recreativo, inútil. Tempo desprendido de preocupações de dinheiro, de compensação monetária, de correção monetária. Tempo impregnado ecologicamente de trópico embora retendo, de suas ligações com ambientes europeus, aqueles mitos, por um lado, e aquelas implicações lógicas, por outro lado, suscetíveis de ganharem novas expressões em ambientes tropicais.
Em livro recente, em que o pensar e o sentir do seu autor, Nestor dos Santos Lima, em vários pontos coincidem com os do autor de New World in the Tropics, neste e noutros dos ensaios em que vem tentando caracterizar a situação do Brasil como a de um sistema de civilização eurotropical destinado a desempenhar, em escala mundial, papel criador, ou criativo — papel que, aliás, já começa a desempenhar com a sua música, a sua culinária e a sua arquitetura —, o sociólogo Nestor dos Santos Lima lucidamente destaca vir se verificando, no nosso país, o que chama "sensível fusão da arquitetura religiosa luso-brasileira com a estrutura da casa residencial e familiar, à qual às vezes só acrescenta o frontispício e a cruz..." É o que se lê à página 111 de Uma Terceira América. Ensaio sobre a Individualidade Continental Brasileira (Rio-1967).