Desse reparo talvez se possa dizer que coincide com sugestões que o autor de New World in the Tropics vem procurando esboçar desde páginas mais remotas que as de New World in the Tropics. Pois desde a mocidade vem observando, no nosso país, a assimilação de característicos arquitetônicos de casas-grandes por igrejas, ao lado da assimilação de característicos arquitetônicos de conventos por casas-grandes, numa reciprocidade porventura peculiar à formação brasileira. Como peculiar à formação brasileira parece ser o fato de não se terem erguido, no Brasil, catedrais da mesma grandiosidade das do México e do Peru: expressões de um poder episcopal ou teocrático que, na América Portuguesa, arquitetônica e socialmente crescida, de modo considerável, em torno de casas-grandes de engenho, de fazenda e de estância — casas-grandes completadas por capelas —, não se apresentou, nunca, nem tão incisivo nem tão absorvente. Bispos, abades, provinciais de ordens religiosas tiveram, no Brasil — ao contrário do que se passou na América Espanhola — um contrapeso, não esporádico, como o dos caudilhos, porém constante e até sistemático, no poder entre nós representado, quer no período pré-nacional, quer na primeira fase do já nacional, pelos senhores das casas-grandes. O que confirma a tese de ser, no Brasil, a chave principal para a interpretação de sua formação socioeconômica, a familista ou patriarcalista. O poder daqueles senhores e a influência dos complexos representados triangularmente pelas suas casas (com capelas), suas senzalas e seus engenhos de açúcar, ou suas fazendas de café e de cacau ou seus campos de criação de gado, foram, entre nós, poderes e influências superiores ao dos representantes del-Rei, ao dos governos centrais, ao dos bispos, ao dos jesuítas.
Foi como o Brasil se desenvolveu em civilização em espaço tropical — desenvolvimento que continua: com essa singularidade. Mas, por outro lado, com não poucas coincidências com o desenvolvimento de civilizações de origem, como a do Brasil, principalmente europeia, potencialmente hispânica, especificamente portuguesa, que vem ocorrendo noutros espaços tropicais; e formando, no seu conjunto, um novo mundo nos trópicos.
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Desnecessário parece ao autor deste livro recordar que nele, como nos seus demais trabalhos — nos que vem escrevendo há anos, quer em língua inglesa, quer na portuguesa —, o critério seguido, de tentativa de interpretação do homem situado no trópico,