Novo Mundo nos trópicos

eu próprio sugeri a sua singularidade: uma singularidade que lembra a da China ou a da Rússia, podendo até ser descrito como China tropical ou Rússia americana.

Os meios de transporte de nossa época, que tornam as viagens tão rápidas, fazem com que os países pareçam muito menos singulares ou misteriosos e diferentes uns dos outros do que eram até há meio século. Porém, num mundo que passa por um processo de intensa estandardização na maneira de vestir, na arquitetura, nos modos de comer e mesmo nos de beber, algumas dessas diferenças persistem. Continuam existindo.

Houve tempo em que o estrangeiro, ao chegar à própria capital do Brasil, sentia-se em meio completamente estranho. Paralelamente, por seu lado despertava a curiosidade dos brasileiros menos sofisticados, tal como se tivesse vindo de outro planeta.

Até que ponto o intruso era humano? E até que ponto cristão? Naquele tempo os brasileiros acreditavam que os ingleses, hereges sob o ponto de vista do catolicismo ortodoxo, fossem verdadeiros diabos, com pés de bode ou de pato, disfarçados em seres humanos. E, dos estrangeiros, alguns imaginavam que estavam chegando a um país pagão ou bárbaro. Tanto que alguns missionários protestantes, mais ortodoxos, esperavam encontrar aqui uma população não somente pagã mas subumana: necessitadíssima dos seus préstimos evangélicos e civilizadores.

A verdade, porém, é que os brasileiros não só vinham sendo humanos como cristãos desde os primórdios da colonização portuguesa de seu país, no século XVI. É claro que era possível encontrar sinais da sobrevivência de paganismo em sua civilização, tal como acontece na própria Europa, onde às formas mais puras do cristianismo, praticado pelo povo em geral, se juntam ainda hoje umas tantas sobrevivências pagãs.

Sociologicamente, o desenvolvimento brasileiro, encarado em conjunto, pode ser considerado como predominantemente cristão. Como expressão "humana" da cultura americana, ele pode ser caracterizado pelo desejo tipicamente brasileiro de cada um viver sua vida, saborear seu peixe bem temperado, fumar seu bom charuto, gozar sua música de violão. Dar a tolerância em relação aos outros. De modo que a luta pelos bens materiais ou as conquistas de caráter altamente intelectual — as quais poderiam resultar deletérias para um ritmo de existência lento e lúdico — têm sido menos intensas que noutros países.

Dos europeus familiarizados com o Brasil durante o período colonial (do século XVI até o princípio do XIX), vários mostraram-se surpreendidos com o pouco interesse dos brasileiros

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