em relação a livros, estudos de história natural, as ciências e mesmo as artes. A não ser a música de violões, por vezes tocados por alguma mulher de belos olhos negros, tendo como audiência reverente o marido ou o pai. Outras vezes, por trovadores de rua.
As restrições impostas pela Inquisição, que limitava a leitura apenas a livros religiosos da Igreja Católica, talvez seja a explicação para o fato de que o estudo dos livros ficasse restrito a poucos: a raros, mesmo. Mas apesar desse estado de coisas, a literatura começou a aparecer no Brasil logo no início do século XVI. Naqueles dias, ser militar era motivo de grande distinção, mas também o era ser erudito, usar óculos, ler em latim ou escrever bem a língua portuguesa, sendo que um dos primeiros governadores de Pernambuco, aristocrata português dos bons, foi, ao mesmo tempo, soldado e letrado. O comércio, a indústria e qualquer outra forma de trabalho manual não eram tão altamente considerados, e, desde os primórdios do período colonial, os brasileiros de alguns recursos deixaram a administração dos negócios nas mãos dos portugueses de origem humilde ou na de outros europeus, ficando o trabalho manual para os negros escravos ou os mulatos livres. Por seu lado, adotavam os ademanes e a vida da nobreza campestre, dando ordens aos escravos do alto de seus cavalos ou do interior de suas luxuosas redes, onde passavam o dia em relativo estado de ócio. Por seu lado, os que não fossem donos de terras satisfaziam-se em possuir alguns escravos para o seu serviço: para viverem como senhores.
Essa generalizada falta de ambição pelo ganho material ou pelo desenvolvimento intelectual foi característica do Brasil daqueles dias. Contudo, tinha sua compensação numa disposição, tipicamente brasileira, também generalizada, para desfrutar a vida e o lazer. Disposição, esta, inexistente em países mais enérgicos e progressistas nos quais os escravos industriais substituíram os agrários, e os barões feudais foram substituídos pelos magnatas industriais, muitos perdendo, nesses processos, a capacidade de apreciar a música e a arte, saborear lentamente um bom jantar (a não ser a Ceia de Natal!), sentir o inebriante aroma de uma xícara de café, ou de um cálice de vinho do Porto, ou de um charuto da Bahia, ou cheirar uma pitada de rapé.
Os brasileiros coloniais também possuíam um particular amor pelo luxo, usando em público roupas "bordadas e rendadas" de acordo com o depoimento de um escritor dos começos do século XIX. Mas, quando no recesso do lar, vestiam-se com a maior simplicidade, os homens, apenas calça e camisa, as mulheres, camisolas de fina musselina sobre camisas bordadas, antecipando-se,