A Bahia e a carreira da Índia

dos orientais as autoridades metropolitanas se queixavam no século XVIII que a mercadoria desembarcada em Lisboa era apenas aquela que não encontrava aceitação na Bahia (Doc. ult. port., vol. IV, p.57).

Do exposto, e pelo que tivemos oportunidade de verificar na documentação da época, particularmente nos "mapas" de cargas, estas que foram desembarcadas na Bahia no século XVIII, destinando-se ao consumo colonial, diferiam daquelas que vinham da Índia, seguindo para o Reino principalmente no século XVI.

É que o comércio e os próprios mercados de especiarias perdiam agora em volume e, portanto, em aceitação, para as manufaturas orientais, com artigos de mais larga difusão e não de simples adorno, como ocorria naquele século, quando o bojo das naus vinha repleto de gêneros úteis às boticas, à cozinha ou de atavios para as pessoas e as casas, o caso do incenso, alcés, canela, cravo, pimenta, gengibre, noz-moscada, benjoim, âmbar, almíscar, cana-fístula, cana-índica, almarega, sândalo, pérolas, rubis, porcelanas, peras, maçãs, nozes, figos, amêndoas e romãs, cuja variedade correspondia ao interesse de largos mercados, alcançando então para essas cargas lucros fabulosos. Em compensação, depõe um cronista do século XVIII, os artigos orientais entrados então no Salvador é que realmente ativavam seu comércio, dando "utilidade não pequena a Sua Majestade"(91) Nota do Autor, o que nos mostra a evolução que sofreram no correr dos séculos as necessidades da população colonial. Nesse sentido acreditamos serem idênticas às mercadorias orientais que se vendiam na Bahia as que os navios da Índia despejavam nos demais portos brasileiros.

A integração do porto do Salvador no roteiro do Oriente não ficou apenas na serventia de escala ou na condição de colônia de posição, que ele não deixou de ser ao longo dos três séculos, como tivemos oportunidade de ver. Tampouco o mercado consumidor que o Brasil oferecia aos produtos asiáticos fez daquele porto, que era dos principais, simples receptador, pois foi justamente a exportação que por ele se fazia o motivo de projetar-se de modo excepcional, dando importância à economia colonial em face do comércio do Oriente.

Será quase exclusivamente para dois dos nossos produtos agrícolas comerciáveis, o tabaco e o açúcar, pelo que verificamos

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