A conservação do império português na África e no Oriente, embora com áreas que se irão restringindo consideravelmente em relação àquelas primitivamente conquistadas, não se fez apenas e indiretamente graças aos recursos proporcionados pelo açúcar e pelos metais e pedras preciosas do Brasil, mas também considerando-se, além de outros fatores, nossos recursos econômicos colocados e transformados em função do roteiro do Oriente.
Esse é um dos pontos centrais que procuramos mostrar ao longo deste estudo e que agora retomamos para conclusão.
A situação geográfica da Bahia, estrategicamente considerada em função do Atlântico e em relação às praças portuguesas da África e do Oriente, caracterizou-se desde cedo como colônia de posição, atraindo-lhe atenções e recursos, oficiais e privados, numa movimentação que de pronto atingiu também a esfera dos interesses econômicos.
Estas condições propiciaram a Salvador a concentração de mão de obra profissional especializada; a articulação com outras áreas da própria Colônia, como Ilhéus e as Alagoas, por exemplo, tendo em vista a exploração da madeira para a construção naval, cuja atividade foi consideravelmente incrementada, e a incorporação ao uso comum dos estaleiros de uma série de matérias-primas indígenas. Também a agricultura, particularmente o tabaco e o açúcar, encontrou ponderáveis estímulos no giro mercantil que o roteiro marítimo proporcionava, enquanto que, em contrapartida, uma série de produtos orientais passavam a ocupar lugar nas preferências de um mercado consumidor local, ao mesmo tempo que interesses ligados ao tráfico de escravos africanos promoviam a maior entrosagem das áreas portuguesas daquele continente com o Brasil e em relação à Carreira da Índia.
Desse modo, se de um lado a Carreira significou pesado e prolongado ônus para a Bahia, devido à soma de recursos materiais e humanos requeridos para os reparos das embarcações, seu provisionamento e engajamento de marinheiros, como ao envio de socorros para outras colônias portuguesas, ela deu por outro lado, como antes afirmamos, uma contribuição bastante importante à nossa cultura e à nossa economia.
O fato de termos estudado mais o período justamente em que a Carreira entra em lento declínio, não significa a diminuição do seu papel em relação ao Brasil. Antes, quando a Carreira se alimentava da disputada circulação das especiarias,