Rio Branco (o Barão do Rio Branco). Biografia pessoal e história política

da técnica de um Maurois. Confesso sem constrangimento que não disponho nem de gosto nem de capacidade para a biografia romanceada. Não me parece também - e sobre isso já escrevi, mais de uma vez, em ensaios e estudos do Jornal de Crítica - que a melhor técnica de biografia seja a técnica do romance. Não são idênticos, para ambos, os planos, os métodos e os fins. Julgo arbitrária a exigência de impersonalismo do biógrafo, de haver de ficar ele fora e distante, simples apresentador de personagens. O direito de intervir, interpretar e opinar é um direito do biógrafo e do historiador. À sugestão de André Maurois gostaria de contrapor o exemplo de Aldous Huxley: fazendo a biografia da "eminência parda" de Richelieu, abandona de repente o seu personagem para escrever um verdadeiro ensaio sobre o misticismo.

Deve-se notar, além disso, que a história de cada vida requer um processo próprio, isto é, o processo adequado ao estilo dessa mesma vida. Procurei, por isso, escrever a história de Rio-Branco com a maneira que lhe era mais indicada. As páginas de dissertações ou descrições de ambientes não são aqui ornamentais; elas se ligam, embora às vezes indiretamente, à compreensão da existência e da política de Rio-Branco. Quis dar, ao menos em traços rápidos, uma impressão das suas relações com o meio e com os contemporâneos, pois a existência é um quadro de várias formas, que se tornaria falso e mutilado com a apresentação de uma figura posta apenas em si mesma isoladamente. Numa parte da biografia - correspondente ao período de tempo em que estava em formação, ainda irrevelada, a personalidade de Rio-Branco - tomam aspecto mais relevante o Visconde do Rio-Branco, o meio, os amigos; na segunda parte - correspondente ao da obra do estadista a figura do Barão do Rio-Branco assume o primeiro plano e tem a predominância. O processo de trabalho, que assim segui, adequadamente, veio-me sugerido como uma consequência do processo da existência do próprio biografado. Também de uma consequência da mesma ordem decorreu a circunstância de se abrir aqui um maior espaço à vida pública e intelectual do que à vida sentimental e particular: Rio-Branco renunciou quase à segunda para dedicar-se todo à primeira. Houve dramaticidade na sua vida, mas numa forma sóbria e severa, sem sentimentalismos para as biografias romanceadas. Empenhei-me, de qualquer modo, para não apresentar apenas

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