Paranhos Júnior não foi apenas o primogênito do então professor de Matemática da Escola de Marinha. Com o próprio nome, herdaria as principais qualidades de temperamento, de caráter, de natureza humana do pai. Completaria e resolveria depois certas questões de política exterior que o Visconde do Rio-Branco havia estudado e encaminhado; seguiria como um exemplo as maneiras e os processos do seu antecessor; faria sempre dele o seu modelo e o seu ideal. Não se pode imaginar, em grau mais perfeito, o fenômeno biológico da continuidade, da projeção e do futuro do homem no próprio filho.
1845 ficaria marcado, aliás, na vida do Visconde do Rio-Branco, como um ano feliz: a data do nascimento do primeiro filho; a passagem, como professor, para a Escola Militar; o início da carreira política, com a eleição para a Assembleia Legislativa da Província do Rio de Janeiro. E não só feliz para o Visconde, mas para o próprio Imperador. Ele marcava o fim das lutas de dez anos no Rio Grande, e isto significava a estabilidade do Império, o início de um período de paz interna e de prática e consolidação das instituições monárquico-parlamentares. Por curiosa coincidência também em 1845 nascia o primogênito do Imperador. D. Pedro II e o futuro Visconde do Rio-Branco - o Chefe de Estado e aquele que seria o seu grande ministro - sentiram no mesmo ano essa confiança íntima, essa segurança de si mesmo, essa força interior de determinação em face do destino, que o homem experimenta com o nascimento do primeiro filho. A maturidade viera cedo para o Imperador e para o seu ministro.
Tem sido julgado o Visconde do Rio-Branco como o mais completo dos estadistas do Império, "a mais lúcida consciência monárquica que teve o Reinado"(1). Nota do Autor E até se ajustam a existência do estadista e a existência das instituições monárquicas no Segundo Reinado. Rio-Branco entra na vida política quando o segundo Reinado inicia o seu ciclo histórico; e a data da sua morte (1880) é também aquela que os historiadores indicam como o princípio da decadência e dissolução do Império. O apogeu de ambos será o ministério Paranhos de 1871-1875. Desdobram-se juntas a história do estadista e a história do Segundo Reinado.