Rio Branco (o Barão do Rio Branco). Biografia pessoal e história política

Mas a carta de Rui, publicada no dia 20, levantou um movimento popular destinado a impor a candidatura de Rio-Branco. Publicou-se neste sentido um manifesto assinado por trezentos estudantes. No dia 25 o povo fez-lhe, nas ruas, uma extraordinária manifestação para que aceitasse a Presidência. Uma multidão esperava-o à porta da Brama, onde se sabia que ele estava jantando com seu secretário Araújo Jorge e com um redator do Jornal do Commercio. Ele procurou se esquivar pelo Largo da Carioca, mas os populares cercaram o seu automóvel, acompanhando-o, por entre ovações e gritos, até o Itamarati. Lá se concentraram, aos gritos de "viva o candidato do povo" e "viva o presidente do povo", cerca de dez mil pessoas, segundo o noticiário de um jornal do dia 26, que acrescentava a seguir:

"Foi um espetáculo nunca visto no Rio de Janeiro e raro em qualquer parte do mundo."

A 22, porém, o Barão do Rio-Branco já havia enviado a Rui Barbosa uma carta a respeito da que ele publicara no dia 20. Um nobre e característico documento que lhe define a posição e o sentimento nessa crise política de maio de 1909:

"Desde a publicação anteontem da sua belíssima carta política, com a qual sinto achar-me em desacôrdo a certos respeitos, tenho estado impedido de ir pessoalmente, como tanto desejava, agradecer a V. Excia. a grande honra que lhe fiquei devendo. A imensa bondade de V. Excia. para comigo o levou mais uma vez a exaltar as minhas modestas aptidões que muito mais insuficientes seriam se eu tivesse sido ou pudesse ser obrigado a exercê-las fora da esfera de ação em que me tenho encerrado. Quando, nos primeiros dias deste mês, o Dr. Baptista Pereira me comunicou, pedindo o máximo segredo, a lembrança de V. Excia., logo declarei a esse meu bom amigo que em caso algum eu poderia aceitar o elevado e difícil pôsto em que V. Excia. e outros ilustres brasileiros desejavam ver-me colocado, e não poderia aceitar ainda mesmo que o Presidente e todos os chefes políticos, aqui e nos Estados, sem discrepância, me pedissem esse sacrifício. Igual linguagem eu tinha tido uns vinte dias antes em conversação com o presidente da República. Meu pai completou a sua carreira neste mundo aos 61 anos de idade. Eu já tenho mais de 64; estou velho e cansado para entrar agora nas lides da política interna, saindo da vida de retraimento que há tantos anos vou levando, e da qual apenas me tenho desviado ocasionalmente e a contragosto para cumprir deveres de cortesia internacional no desempenho de cargos que me têm sido confiados.

Se o plano ideado por V. Excia, pudesse ter surtido efeito na primeira quinzena deste mês, dando-se no nosso mundo político uma unanimidade de sentimento, que era e há de ser sempre impossível,

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