Rio Branco (o Barão do Rio Branco). Biografia pessoal e história política

espetáculo do enterro, nas manifestações aparecidas no Brasil e nos países da América, em tudo já se antevia que aquilo não era o fim, mas o começo de alguma coisa. Efetivamente, ali começava agora a mais autêntica existência de Rio-Branco: a existência imaterial e histórica, contra a qual não teriam forças nem a morte nem o tempo.

Sim, agora, morto, é que ele começava realmente a viver. Não seria justo, no seu caso, falar de morte prematura. A sua obra estava de todo concluída, e ainda foi um dispositivo da sorte - da boa fortuna que parecia ter feito dele um eleito - que viesse a morrer no momento exato, que não conhecesse a melancolia de sobreviver ao próprio destino. Todos os problemas de solução imediata que encontrara no Itamarati, ele os tinha resolvido; para os que se prolongariam, sempre renovados, pelo futuro, deixava orientação, sugestões exemplos, inspiração. Pois Rio-Branco continua a ser a figura principal do Itamarati, que se tornou de modo ao mesmo tempo simbólico e real a "Casa de Rio-Branco". E isto aconteceu porque, morrendo no instante propício, deixou de ser um homem para ser uma imagem. Como imagem, ele é sempre um ideal inalterado e renovado, uma força imaterial da qual procuramos aproximar-nos incessantemente. Como homem, se continuasse a viver, teria ficado isolado, à margem dos acontecimentos, no limiar daquela nova época que lhe era estranha.

Pois Rio-Branco havia sido uma figura típica e representativa do século XIX. E coincidia que, junto com ele, estava morrendo um mundo que fora o seu, o da sua formação, o dos seus estudos, o das suas ideias, o dos seus processos de ação, o da sua política.

Na vida interna, com o governo de Hermes da Fonseca, estava sendo liquidada a época mais feliz da República, a da "república dos conselheiros". Desapareciam as grandes figuras intelectuais e políticas dos princípios do século; e, como indício, ali estaria o quase isolamento de Rui Barbosa. Rompia-se o equilíbrio, a estabilidade, a segurança do regime republicano, com a irrupção de forças brutais e vulgares, que iriam permitir anos depois o domínio da ditadura e da caudilhagem, fazendo o Brasil experimentar misérias e desgraças

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