Rio Branco (o Barão do Rio Branco). Biografia pessoal e história política

conselheiros visconde de Muritiba, Saldanha Marinho e Silva Nunes; a segunda, ao ser visitado pelo Dr. Joaquim Murtinho e a terceira, quando minha cara Mãe, tendo ouvido do frei Luís Piazza palavras de consolação, se dirigiu em pranto ao leito do enfêrmo. Esta última e tristíssima cena deu-se às 3 1/2 horas da tarde e presenciaram-na, além de pessoas da família, os Srs. Drs. Luís Bandeira de Gouveia e José Avelino Gurgel do Amaral.

Por essa ocasião meu Pai pronunciou estas palavras, que os circunstantes ouviram distintamente e eu tenho que elas resumem o seu coração e a sua inteligência naquele supremo momento: Estejam certos de que hei de confirmar perante Deus o que hei afirmado perante os homens.

Foram as suas últimas palavras e eu, além de as repetir desde logo ao frei Luís Piazza e ao Sr. Octaviano Hudson, que se achavam no Salão, as comuniquei ao meu amigo dr. Gusmão Lôbo, em carta que imediatamente lhe escrevi. Suponho haver feito igual comunicação (não afirmo) aos Srs. deputados Joaquim Nabuco e engenheiro André Rebouças, que se achavam no gabinete de trabalho de meu Pai.

Pouco depois das 4 1/2 horas da tarde, frei Luís Piazza foi introduzido por mim no aposento de meu Pai e administrou ao enfêrmo o Sacramento da Extrema-Unção.

As 7 horas e 5 minutos meu Pai deu a alma a Deus.

Eis quanto se passou acerca do objeto da carta de V. R. e ser-me-á lícito acrescentar que do ocorrido se não pode inferir que o Visconde do Rio-Branco renegasse a Associação de que foi chefe. Ninguém melhor do que ele sabia que a Maçonaria é uma sociedade de beneficência, cujos estatutos vedam tôda discussão sobre assuntos religiosos. A grande maioria dos Mações Brasileiros pertence ao grêmio da Igreja Católica e permita-me V. R. recordar que um brasileiro ilustre, que deixou inúmeros documentos da sua ardentíssima fé religiosa, o almirante visconde de Inhaúma, foi grão-mestre adjunto da Maçonaria sem que por isso lhe houvessem sido recusados os socorros espirituais.

Li hoje na seção ineditorial do Jornal do Commercio a declaração de S. R. o Vigário Capitular em que pretende que meu Pai, na sua hora extrema, condenou tudo aquilo que a Igreja Católica condena e portanto as sociedades secretas e os seus erros.

A este ponto não tenho a lembrar a V. R. senão o que acima disse: - meu Pai nenhuma resposta inteligível deu à pergunta que a tal respeito lhe dirigiu V. Rev. Ele não condenou, nem é para presumir condenasse, uma instituição que muito prezou, e que nada faz a ocultas para que se lhe atribuam intuitos contrários à religião católica.

V. Rev. absolveu o Visconde do Rio Branco, e não deve arrepender-se disso. Para provar que ele foi sempre católico apostólico romano, aí está o testamento escrito num tempo em que as suas faculdades intelectuais se achavam íntegras. Meu pai passou por êsse mundo fazendo o bem que pôde, e nenhum mal praticou intencionalmente.

A dor que me oprime, e que só acha lenitivo e confôrto nas mostras de condolência pública que cobrem de bênçãos a memória do Visconde do Rio-Branco, tolhe-me de continuar. Beijando reverentemente

Rio Branco (o Barão do Rio Branco). Biografia pessoal e história política - Página 502 - Thumb Visualização
Formato
Texto