resultantes do contato entre civilizações. Embora tenham os traços das "culturas" africanas sofrido modificações, não deixa em verdade o candomblé de constituir um sistema harmonioso e coerente de representações coletivas e de gestos rituais. Pode a religião africana subsistir porque responde a certas funções ou a certas necessidades; isso não impede que o candomblé tenha sua estrutura e que esta estrutura mereça estudo paciente e especial. Assim pois, neste trabalho, não nos preocupa a busca da origem africana deste ou daquele traço, nem o possível sincretismo deles com os da civilização luso-brasileira; indicamos ao leitor, quanto a esse ponto, nossa tese principal. Estudaremos o candomblé como realidade autônoma, sem referencia à história ou ao transplante de culturas de uma para outra parte do mundo.(3) Nota do Autor Não nos preocuparemos também com o enquadramento das descrições em sistemas de conceitos tomados à etnografia tradicional ou à antropologia cultural. Não porque os desdenhemos, mas porque nos parece mais útil abrir horizontes do que caminhar por sendas já percorridas.
Foi em 1944 que pela primeira vez tomamos contato com os candomblés, e na reportagem então produzida, dizíamos: "A filosofia de candomblé não é uma filosofia bárbara, e sim um pensamento sutil que ainda não foi decifrado" (Imagens do Nordeste místico, p.134). Foi ao estudo deste "pensamento sutil" que nos dedicamos neste trabalho. É sempre difícil abandonar preconceitos e etnocentrismos. O próprio negro brasileiro, ao estudar