as religiões africanas de seu país, aceita o ponto de vista do branco sobre a superioridade da civilização ocidental. Tende-se inconscientemente a admitir que o candomblé não pode fundamentar ou postular uma filosofia do universo e uma concepção do homem, diferentes sem dúvida das nossas, mas tão ricas e complexas quanto estas, a pretexto de que os fiéis de tais religiões pertencem em geral às camadas mais baixas da população - empregadas, lavadeiras, proletários. Os funcionalistas - um René Ribeiro no Brasil, um Louis Mars no Haiti - já prestaram grande serviço contra os que difamam os cultos ditos "populares", demonstrando sua utilidade para a saúde mental e para a adaptação dos homens na sociedade a que pertencem. Mas é preciso mostrar ainda que tais cultos não são um tecido de superstições que, pelo contrário, subentendem uma cosmologia, uma psicologia e uma teodiceia; enfim, que o pensamento africano é um pensamento culto.
Quando, em 1944, fomos pela primeira vez à Bahia, nada sabíamos dos trabalhos de Marcel Griaule. Foi somente após a guerra que deles tomamos conhecimento. Constituíram para nós um encorajamento precioso, pois confirmavam nossa convicção primeira. Infelizmente, não pudemos avançar tanto quanto ele no estudo do pensamento africano; o mundo dos candomblés é um mundo secreto, no qual só se entra pouco a pouco, e a tentativa que agora oferecemos aos futuros pesquisadores é antes um esboço do que uma síntese definitiva. Reconhecemo-lo de bom grado. Mas tornava-se necessário reagir imediatamente contra um preconceito pejorativo que ameaçava desnaturar a descrição dos fatos etnográficos; que impedia, na realidade, a compreensão do verdadeiro significado das cerimônias e dos gestos, apresentando-os antes como uma espécie de caricatura e de degradação.