O candomblé da Bahia: rito Nagô

inferioridade mental do negro desviou os pesquisadores do mundo mental e da epistemologia afro-americana.

Mas o segundo obstáculo é a tendência para reinterpretar através da mentalidade ocidental os dados recolhidos. O Padre Tempels não conseguiu evitá-lo estudando a África; sentiu realmente que os bantos possuíam uma filosofia, mas em lugar de apresentá-la em sua originalidade, repensou-a nos quadros do tomismo. Devemos sempre nos manter de sobreaviso. É de ordem metodológica o mérito da obra de Lévy-Bruhl: ensinou-nos justamente esta vigilância. Até agora, a única tentativa que se aproxima da nossa é o artigo que o Padre Frikel escreveu, numa revista franciscana, a respeito das concepções que os negros formulam sobre a imortalidade e o destino das almas dos mortos. Infelizmente, o artigo chega a conclusões errôneas porque o autor compreendeu mal uma palavra de seu informante, Manoel. Este, falando a respeito da adivinhação de Ifa, que se faz com 21 búzios, designou o processo com o nome de Okâ lelogun (Okâ designa em iorubá o algarismo 21) e Frikel compreendeu Oba Mélégun (Oba significando Rei e Egum, mortos); com este ponto de partida, teceu toda uma filosofia sobre Ifa, dando-o como Rei dos Mortos, o que não tem nada absolutamente que ver com o pensamento autêntico dos africanos e que, ao contrário, o reinterpreta através de uma filosofia do Ocidente, o panteísmo.(4) Nota do Autor Sempre nos pareceu preferível não oferecer senão conclusões modestas, mas verificadas, em lugar de tentativas mais ambiciosas e sem fundamento seguro.

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