operatório do simbolismo que o fez. Conseguiu inserir nos quadros de sua classificação as "ervas" brasileiras, da mesma forma que o botânico ocidental, ao explorar um país novo, consegue situar espécies vegetais desconhecidas dentro dos quadros da classificação de Linné.
Com o simbolismo, não teremos o direito de dizer que estamos em presença de um esquema operatório, de uma classificação por encaixe? Neste caso, o princípio de ruptura é como uma dobradiça unindo o princípio de participação e o princípio de simbolismo.
Funcionando sozinha, a participação impediria o desenvolvimento do pensamento lógico; mas o princípio de ruptura, classificando os seres e as coisas, abre caminho para o pensamento lógico. É verdade que apenas abre; é preciso, além disso, que a classificação se torne manejável permitindo operações, e é essa a função do pensamento simbólico, ainda mais talvez do que a dialética de Exu, ou da gênese matemática da compartimentação da realidade. Os dois exemplos citados, o das "nações" e o das "ervas", provam que a lógica funciona bem. Pôde o africano, graças a ela, refletir sobre os novos fatos com que se defrontava.
Concluindo, vem-nos a tentação de afirmar que se nossa lógica tende para o pensamento indutivo, que consiste em subordinar a leis ou conceitos cada vez mais gerais os fatos e as espécies de fatos, a lógica dos membros do candomblé tende para os raciocínios por analogia, que estabelece correspondências entre estratos diversos da realidade. Assim é possível passar de um estrato para outro, embora todos mantenham suas diferenças irredutíveis. O que não impede também a existência do "raciocínio por complementaridade", a que fizemos alusão no início deste capítulo, e que, por meio de dons e contradons, por meio da divisão do trabalho (sexual, clânica, das diversas categorias de sacerdotes),