O Barão de Iguape; um empresário da época da Independência

da intuição certeira — um descendente dele fala em sua "esperteza e vivacidade" — e não menos do conhecimento da boa regra mercantil, especialmente da escrituração em partidas dobradas, que desde a era pombalina passava por ser a pedra de toque por onde se distingue o negociante de grosso trato do simples "mercador", que vende a varejo de mão a mão e usa o côvado ou a vara, pode-se dizer que foi filho do próprio trabalho. Começou em São Paulo como começaram alguns dos homens mais abastados do lugar, ou seja, como arrematante de contratos de cobrança de impostos, continuou como negociante de açúcar, animais e variados gêneros, foi momentaneamente senhor de engenho em Jundiaí e, finalmente, banqueiro.

A parte que teve nos sucessos da Independência não seria totalmente inseparável de sua vida econômica ativa. Também seu tio, o brigadeiro Jordão, que com ele preparou, em São Paulo, a hospedagem a D. Pedro, era negociante de fazendas e pessoa de muitos haveres. Foi mesmo um dos dois vogais pelo comércio na Junta do governo provisório da província, surgida do levante de junho de 1821 e referendada pelo Regente. Em realidade, a jornada que trouxe D. Pedro a S. Paulo, levando-o à proclamação da Independência, foi provocada por um grave dissídio surgido entre os membros da Junta, que redundou na chamada "Bernarda" de Francisco Inácio, a 23 de maio de 1822. Francisco Inácio de Sousa Queirós, cabeça do motim, era o outro vogal pelo comércio e colocava-se com esse gesto em campo oposto ao do brigadeiro Jordão, seu colega. Herdara do pai, Francisco Antônio de Sousa, entre outros bens, seu negócio de fazendas secas, com sede no nº 35 da rua Direita, o que lhe permitira matricular-se, em 1813, como negociante do grosso na Real Junta de Comércio do Rio de Janeiro.

A origem da "Bernarda" prende-se à desafeição existente entre a maior parte dos homens do governo da província e os Andradas, e seu remate foi a destituição e expulsão de Martim Francisco Ribeiro de Andrada, que imediatamente teve a solidariedade do brigadeiro Jordão, igualmente deposto. O motim foi vivamente reprovado então por D. Pedro que, chegado Martim Francisco à Corte do Rio de Janeiro, o nomeou ministro da Fazenda do governo em que José Bonifácio ocupava já a pasta do Reino e de Estrangeiros, ao mesmo tempo em que mandou substitituir a Junta de São Paulo e ordenou devassa sobre os acontecimentos de maio. Embora não faltasse quem nestes visse uma reação absolutista, o mais provável é que tenham sido suscitados por

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