O Barão de Iguape; um empresário da época da Independência

Além disso, capitais adquiridos com os contratos de arrecadação de impostos foram transferidos para o comércio de gado. No caso específico estudado percebe-se que contrato e comércio de gado estão intimamente ligados, um complementando o outro. O mesmo pode ser constatado com relação aos que também se dedicaram a ambas as atividades, como, por exemplo, no caso da família de Rafael Tobias de Aguiar e de outras pessoas que, às vezes, agiam em escala menor, haja vista certos criadores ou comerciantes dos Campos Gerais, também cobradores de impostos. A arrecadação de impostos em Sorocaba oferecia ao comerciante Antônio da Silva Prado várias vantagens com relação ao comércio de gado. Certamente aplicava parte do lucro auferido na arrecadação do "novo imposto" e do imposto de Guarapuava na compra de animais. Mais importante do que isso, todavia, era o fato de poder contar com as somas arrecadadas para realizar negócios, enquanto não precisava saldar seus compromissos, perante a Junta da Fazenda, e que venciam de seis em seis meses. Havia ainda vantagens em assegurar ambas as atividades, pois assim não precisava desembolsar imediatamente a quantia correspondente aos impostos a serem pagos em Sorocaba pelos seus animais, embora o fato de ser cobrador do "novo imposto" e do imposto de Guarapuava não o isentasse de tal pagamento; na contabilidade final sempre constavam as quantias que devia, relativas às suas tropas e boiadas. Quando vendeu a Tobias de Aguiar a cobrança do "novo imposto" dos animais em Sorocaba, creditou a soma correspondente ao imposto de seus animais no fim de cada semestre, quando tinha que fazer o pagamento na Junta da Fazenda e quando recebia de Tobias o total da venda. A quantia referente aos impostos de seus animais podia, assim, ficar mais tempo em suas mãos, ajudando a assegurar-lhe maior capital para suas transações comerciais. Contava sempre com não pequeno número de animais, de maneira que a quantia a ser desembolsada para o pagamento de impostos era bastante apreciável.

Pelo caso estudado, percebe-se a inter-relação dos contratos de arrecadação dos impostos sobre animais em Sorocaba e o comércio de gado, inter-relação que deve ter sido frequente no Brasil de então: já que o comércio constituía a maior fonte de renda do Estado, não devem ter sido raros os comerciantes que procuraram intervir na cobrança de impostos por permitir um controle maior do aparelho arrecadador, sempre em seu beneficio.

O comércio de gado, na Província de São Paulo, além de ser o responsável pela circulação de capitais, também o era pela

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