A interiorização de fortes setores da economia brasileira no século XVIII, com a mineração, primeiro, e, mais tarde, com o renascimento das atividades agrícolas no Rio de Janeiro, em São Paulo e mesmo em Minas Gerais, garantiu a esse gado vindo do Rio Grande do Sul e dos Campos Gerais, um mercado consumidor apreciável. Com o correr do tempo, principalmente depois de 1808, a procura de gado de corte e de carga torna-se sempre maior.
A "indústria de tropas" desempenhou um papel de grande relevância na economia brasileira desde a abertura do caminho para o Sul. Transforma-se em elo de integração do Sul do país na economia colonial brasileira, contribuindo inclusive para assegurar sua posse definitiva ao domínio português. Em parte, também é responsável pelas lutas travadas entre lusos e castelhanos nas margens do Prata desde a criação da Colônia do Sacramento em 1680 e que se prolongariam até o Segundo Reinado.
O governador Melo Castro e Mendonça já percebeu, em 1800, a dependência de outras áreas brasileiras com relação ao comércio de muares realizado na Capitania de São Paulo: "...muita gente se ocupa neste negócio, e é um ramo de indústria e de comércio, que esta Capitania oferece a seus habitantes ...", além de ser um dos mananciais das rendas da Capitania, que por esta razão se deve manter, e conservar no melhor pé, e um dos motivos, que em certo modo faz as outras capitanias dependentes desta". Caio Prado Júnior, referindo-se à importância das tropas de bestas que vinham do Sul, diz que "sem elas, o Brasil teria andado mais devagar que andou" (2)Nota do Autor.
A abertura dos caminhos, que ligou o Sul produtor de muares aos grandes centros consumidores, realizou-se em várias etapas. Já em 1720 Bartolomeu Pais de Abreu, pedindo uma série de regalias para abrir um caminho desde as campinas do Rio Grande do Sul até São Paulo, mostra as vantagens da integração dessa área com o resto da colônia: "Toda esta campanha do Rio Grande para diante produz gados vacuns e cavalgaduras em muita quantidade, sem mais utilidade para a real coroa de Vossa Majestade que alguma coirama fabricada na mesma Colônia; e se não pode conseguir maiores convergências com a saída destes por falta de caminho por terra" (...) "e só terá lugar esta extração abrindo-se caminho pelo interior do sertão, vindo-se do Rio Grande e demandar a comarca desta cidade" (São Paulo) (3)Nota do Autor. Pouco mais tarde, Cristóvão Pereira de Abreu demonstra uma grande compreensão dos problemas da economia brasileira: "É bem sabido que, por falta de gados, e principalmente de cavalgaduras, se não