têm desfrutado mais os grandes, e ricos tesouros, com que a providência divina dotou e enriqueceu nesta América os vastos domínios que S. Majestade nela possui, e que nas poucas que há pelo seu grande valor consomem os vassalos muita parte dos seus cabedais" (4)Nota do Autor. Percebe-se, portanto, que os contemporâneos bem compreenderam a importância da abertura do caminho para o Sul. Realmente foi um trabalho realizado com fins específicos, conhecidos e bem percebidos. Havia mister devassar o sertão existente entre os campos de São Paulo e as campinas e campos do Rio Grande do Sul, fornecedores dos elementos necessários para a "indústria das tropas", que poderia se tornar negócio altamente rendoso tanto para os colonos como para a Coroa.
Bartolomeu Pais de Abreu, Francisco de Sousa Faria e Cristóvão Pereira de Abreu são os principais nomes ligados à abertura do caminho para o Sul. Após uma série de tentativas, Cristóvão Pereira de Abreu conseguiu, por volta de 1732-1733, trazer a primeira tropa de gado vacum e cavalar "das campanhas do Rio Grande pelo Caminho da Serra para a vila de Curitiba", porquanto uma portaria do conde de Sarzedas de 9 de setembro de 1732 determinava que ele devia ser o primeiro a passar pelo caminho recém-aberto (5) Nota do Autor. Logo em seguida, o uso dessa nova via de comunicação e a vinda de tropas do Sul tornar-se-iam rotina, caso contrário o escrivão da Câmara de Sorocaba não poderia escrever em 1735 que "os condutores das bestas muares e cavalares que conduzem das campanhas da Laguna e nova Colônia do Sacramento deem fiança dos direitos reais que deles devem pagar na forma da instrução que se acha nessa vila. Essa fiança darão na vila de Curitiba, nesta e na de Itu e em São Paulo..." (6)Nota do Autor. Foi, portanto, pelo menos a partir da quarta década do século XVIII que o gado vacum, muar e cavalar vinha do Sul — por terra — para abastecer áreas centrais em franco desenvolvimento. As áreas desertas ao longo desse caminho foram pouco a pouco sendo povoadas, passando então a gravitar definitivamente em torno dos interesses portugueses, afastando de uma vez os espanhóis.
Os negócios de gado desenvolvem-se cada vez mais e no tempo do Morgado de Mateus já ocupavam um lugar de destaque na economia da Capitania. Escreve o governador em 1769: "O negócio mais limpo que tem esta Capitania de São Paulo, é o dos animais que se vão buscar à Fronteira de Viamão; neste tráfico lucram os que têm dinheiro, e o emprestam, ganham os que vão comprar, utilizam-se os fazendeiros, que povoam a fronteira e nas passagens dos Registros a S. Majestade consideráveis direitos". O Morgado de Mateus no ano anterior já tinha mostrado a importância do comércio de mulas: "O negócio da passagem dos animais