moradores da cidade, sobre os fatos. Existia — como ainda existe em menor escala — um mórbido fascínio pelo "caso dos Britos e Carvalhos", estimulado, ainda mais, pela repressão que sempre cercou a abordagem do assunto. Alguma coisa assim como a maior atração exercida pelas coisas proibidas. Dos que se dispõem a falar, é impressionante a variedade das versões que dão ao caso, não só nos detalhes, mas no essencial dos fatos e, mesmo, no "quem matou quem", ou no "quantos morreram". A explicação está no fato de que a abordagem do assunto sempre foi tema proibido e as crianças e os mais jovens, do começo do século, só tinham informações, em geral, através de "pontas de conversas" dos mais velhos, à meia voz e em grande sigilo. A repressão que os Carvalhos exerceram, durante longo período, enquanto detentores do poder, ou com influência sobre ele, tornando proibitivo o tratamento do assunto e a circulação do que sobre ele se escreveu, acabou condicionando uma autocensura. Se a força repressiva até 1930 era a família Carvalho no poder, após 1930, apesar de declinante, a influência de Plínio permaneceu uma realidade, até o fim do período de Vargas e a ausência no comando do poder local esteve, eventualmente, compensada, por extensão, pelo estado geral de repressão próprio do período de ditadura, que gera um "modo de vida" peculiar.
Condicionados, ainda hoje é frequente que entre os mais antigos exista uma grande resistência em dizer o que conseguiram ouvir do caso, alegando, a maioria, nada saber, havendo mesmo aqueles que, de modo agressivo, condenam qualquer abordagem do caso, como perniciosa ao "bom nome da cidade", manchado por campanhas infames de detratores, que usaram os crimes para difamar Araraquara. Por que voltar a mexer na ferida, agora, após tanto tempo, quando o passado do estigma "Linchaquara" está quase esquecido por todos?
Apesar de ser geralmente conhecida a existência de um livro sobre o caso, poucos são os que afirmam tê-lo lido. Um dos nossos entrevistados disse quase ter levado uma surra do pai, porque, já mocinho, foi surpreendido lendo furtivamente um exemplar que, apesar do medo, a família conservava em casa.(16) Nota do Autor