que na Inglaterra vai ganhando terreno. Num escrito de 1800, chega a duvidar, a propósito do termo "liberal", que em português seja "lícito adotar esta palavra no sentido que os ingleses lhe atribuem". Com efeito, num dicionário português da época, ou seja o de Morais, em sua edição de 1813, a mesma palavra tem apenas o sentido de generoso, dadivoso, munificente.
Ao chegar a Corte portuguesa, nem os fidalgos que acompanharam a rainha e o príncipe regente cogitavam em mais do que um estabelecimento provisório que só deveria durar o pouco que faltava, com a ajuda de Deus, para a vitória sobre os franceses. A própria palavra "império", empregada no manifesto de maio de 1808 para que ficasse a Europa ciente da conduta do governo de Portugal em face da agressão de Bonaparte, estava longe de ter o significado que, com referência ao Brasil, assumirá em 1822, e parece trair ali, mesmo com semelhante reserva, os sentimentos de Linhares, que redigiu a minuta, muito mais do que do príncipe timorato que devia endossar o texto definitivo. Ainda assim, submetido o papel à apreciação do Conselho de Estado, há quem, como o marquês de Angeja - que já não é o antigo presidente do Real Erário e sim um sucessor seu no título - queira vislumbrar alguma coisa de ominoso na expressão. Lê-se, com efeito, em seu parecer; que seria conveniente omitirem-se "na primeira página as palavras do novo império que vai criar", pois isso, quando menos, "denota pouca esperança em Sua Alteza Real de tornar a possuir Portugal". Tudo leva a crer que aqueles fidalgos adventícios se comportariam à maneira dos colonos seiscentistas de que falava frei Vicente do Salvador, os quais já então ensinavam os papagaios da terra a dizer - papagaio real para Portugal! - porque, segundo o frade, só sabiam pensar no torna-viagem.
Quanto aos naturais do país, como reagiriam diante daquela invasão maciça de forasteiros? Naturalmente entre a suspicácia ou até a hostilidade mal dissimulada e a vaidade de conviver, mesmo a conveniente distância, com personagens da Casa Real e com tantas figuras de alto coturno, podem imaginar-se mil cambiantes. Consta que o elemento feminino especialmente tratou logo de vestir-se e toucar-se como as fidalgas europeias, mas isto haveria de ocorrer porém entre as que se podiam dar ao luxo de seguir ou julgar seguir modas civilizadas, e estavam certamente longe de ser a maioria. Mais universal, porque mais espontâneo, seria o contágio das maneiras de falar e até pronunciar dos adventícios, dando talvez lugar ao abandono daqueles ss ciciados que, ainda