Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821)

É já lugar comum dizer-se que o historiador não explicita os conceitos de que se serve nem mesmo os métodos que pratica. Quando muito descreve as técnicas que utiliza, quando estas se apresentam como novidade. Resta saber se a explicação desejada não está de antemão condenada ao fracasso, se não há contradição, ou pelo menos discrepância, entre aquilo que o historiador diz que faz e aquilo que efetivamente realiza.(1) Nota do Autor

De qualquer modo parece-me útil esclarecer que o conceito de cultura por mim utilizado proveio em grande parte de ciências distintas da história: a antropologia, a ciência do folclore e a sociologia da cultura. Mas haverá um conceito antropológico de cultura? Será correto colocar lado a lado conceitos marcados pela historicidade: a definição de cultura apresentada pelo vitoriano Tylor, cuja obra Primitive culture data de 1871; o longo artigo de Malinowski escrito na década de 1930; a análise do mesmo conceito feita por Evans-Pritchard na década de 50 ou mais recentemente ainda por Claude Lévi-Strauss? A variedade de definições é tal que me parece mais útil acentuar apenas, na discussão em torno do conceito, aqueles aspectos que se revelaram mais fecundos para a análise histórica.

Em vários textos Lévi-Strauss opõe natureza e cultura. A natureza é tudo o que está em nós por hereditariedade biológica; a cultura é pelo contrário tudo o que recebemos da tradição externa. "Há portanto duas grandes ordens de fatos, uma graças à qual nos ligamos à animalidade por tudo o que somos, pelo próprio fato do nosso nascimento e das características que nos foram legadas pelos nossos pais e antepassados, as quais dizem respeito à biologia, por vezes à psicologia; e por outro lado todo esse universo artificial que é aquele em que vivemos enquanto membros de uma sociedade."(2) Nota do Autor Esta oposição natureza/cultura salientada por Lévi-Strauss é de certo modo uma decorrência da oposição biologia/antropologia no estudo do comportamento humano, como mostra Alexander Alland: "A antropologia desenvolveu-se em grande parte como reação contra a importância exagerada concedida à biologia na análise do comportamento humano. Os antropólogos mostraram com sucesso que é aos fatores culturais e não biológicos que se devem atribuir as diferenças de comportamento

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