Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821)

observadas nas populações do mundo. Demonstraram também que a existência humana é essencialmente determinada pela cultura e que, se a cultura é amplamente um fenômeno biológico (mas as primeiras experiências sociais são igualmente críticas para a aquisição da cultura), a sua expressão depende da aprendizagem."(3) Nota do Autor.

Para o historiador da cultura esta oposição permanece por assim dizer no limite das suas preocupações. Ele sempre se preocupou com o homem "cultural" e só muito excepcionalmente se debruçou sobre o homem "biológico", e assim a oposição natureza/cultura tem para ele mais uma utilidade pedagógica, no sentido de não o deixar esquecer aquilo que está colocando deliberadamente de lado, do que uma utilidade metodológica. Talvez até hoje o historiador tenha esquecido demasiado a "herança biológica" em detrimento da "herança cultural" dos indivíduos de uma dada sociedade, quando ambas são fundamentais no estudo do comportamento humano, como escreve Edgar Morin: "Desde o nascimento, todo indivíduo começa a receber a herança cultural, que assegura a sua formação, a sua orientação, o seu desenvolvimento de ser social. A herança cultural não vem apenas sobrepor-se à hereditariedade genética. Combina-se com esta."(4) Nota do Autor Mas já significa um grande progresso o historiador ter abandonado um conceito restrito de cultura por um conceito amplo como aquele que domina as obras dos antropólogos.

Vejamos algumas definições antropológicas de cultura, escalonadas no tempo. Tylor, 1871: cultura "é essa totalidade complexa que inclui o conhecimento, a crença, a arte, o direito, a moral, os costumes e todas as outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade". Malinowski, 1931: "a cultura inclui os artefactos, os bens, os processos técnicos, as ideias, os hábitos e os valores herdados". Radcliffe-Brown, 1952: cultura é "o processo pelo qual uma pessoa adquire, pelo contato com outras pessoas ou por intermédio de objetos como livros ou obras de arte, o saber, a habilidade, as ideias, as crenças, os gostos, os sentimentos". Bastam estes exemplos para mostrar como estamos longe de uma análise da cultura que apenas selecionava as ciências, as artes, a literatura, a filosofia, a religião, como objetos de estudo.

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