Desafio americano à preponderância britânica no Brasil: 1808-1850

maior liberdade na publicação de panfletos, abolição do tráfico escravo, eram objetivos de reforma gerados de acordo com o mesmo espírito que presidira as Revoluções Americana e Francesa.

Através de caminhos semelhantes e de métodos diferentes, tanto na França como na Inglaterra, abria caminho o ideal reformista, futuro veículo para maior participação das massas urbanas no poder, gente a quem a industrialização em marcha vinha dando melhores condições de reivindicações.

Foi o conteúdo reformista da Revolução Francesa, em sua repercussão na Inglaterra — bastante intensa, ao contrário do que supõem muitos —, o toque de reunir das forças conservadoras do "toriísmo". Elas estavam já aguçadas pela perda das colônias norte-americanas, ocorrida, segundo se propalava, devido à intransigência do rei Jorge e de seu Parlamento para com o espírito inconformista, reformista e democratizante, que igualmente presidiu a liberação americana.

É bem verdade que Edmond Burke (1729-1797) era whig e, ao mesmo tempo, foi um dos maiores detratores da revolução na Grã-Bretanha. É necessário lembrar, porém, que esse pensador foi praticamente compelido a escrever o seu Reflections on the French Revolution (1790), exatamente por estar alarmado com a aceitação inicial que o movimento vinha tendo no país. Foi precisamente após a publicação do sermão do dissidente protestante Richard Price que Burke tomou a si a tarefa de atacar a revolução, no que foi imediatamente contestado por Thomas Paine, também inglês, porém emigrado para a América (Rights of Man, 1791-1792). A resposta de Paine a Burke não foi a única, e, mais ainda, os companheiros de partido de Burke discordavam dele e criticavam-no em matéria de doutrina política.

De 1793 a 1802, nove anos de guerra com a França revolucionária serviram de pretexto aos conservadores para o reforço cada vez mais evidente desse "toriísmo" intransigente que não descuidou sequer da revogação de tradicionais veículos de expressão e liberdade do povo britânico. Tal foi o caso da suspensão da lei de habeas-corpus, medida com que se conformou até o próprio Pitt, sob muitos aspectos um "reformador". A dupla frustração das aspirações reformistas e dos desígnios políticos de Pitt, culminando com sua demissão do cargo de primeiro-ministro em 1801, teve no caso da Irlanda seu motivo frontal, mas não o motivo profundo.

Isso porque em 1801 Pitt havia ido à Irlanda a fim de tratar com os líderes do movimento rebelde daquele país e prometeu-lhes que a União dos Parlamentos dos dois países se faria sem restrições de cunho religioso. Viu-se, porém, coagido pelos elementos conservadores radicais e pelo próprio monarca a apresentar, em nome do governo, um bill, proibindo a ascensão de católicos romanos ao Parlamento. Considerando tal proposta incompatível com seus princípios, preferiu renunciar, deixando a posição de primeiro-ministro.

Autores e literatos como Swift, Pope, Steele e Adison haviam impregnado o pensamento inglês do século XVII com o classicismo francês, da mesma forma que através da absorção da ciência newtoniana ir-se-ia anglicizar o pensamento dos filósofos franceses

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