ao tempo de James Buchanan a situação foi mais profundamente resolvida. O próprio Wise, sempre mais interessado em mostrar que os ingleses tinham tanta culpa do mal como os americanos, e até mais, acabou por ser mais incisivo na repressão aos americanos envolvidos no tráfico. Até chegar a esse ponto, Wise entrou a fundo no assunto e procurou esclarecer seus meandros, deixando precioso depoimento sobre como era feita a "manobra".
Em 1º de dezembro de 1844, em extenso memorial dirigido a Mr. Hamilton-Hamilton, seu colega, ministro britânico no Rio de Janeiro — a quem, por sinal, detestava —, expôs ao arrogante "representante da decadente nobreza britânica" "algumas verdades" sobre o tráfico. Enviou cópia desse memorial ao seu governo, e desta cópia são tirados os fatos adiante expostos(50). Nota do Autor
O memorial começa dizendo a Hamilton que "incidentes com várias pessoas envolvidas no tráfico brasileiro e, por isso mesmo, acusadas de desafiar as leis americanas, levaram-no à conclusão de que, enquanto navios dos Estados Unidos eram, de fato, usados para esse tráfico, negociantes britânicos eram os agentes diretos dos negreiros no Brasil, negociando as vendas das cartas de propriedade dos aludidos navios, além de, ao mesmo tempo, agenciar a venda de artigos de origem britânica, os quais produziam "os fundos necessários para as transações realizadas na costa da África".
"Capitais e créditos britânicos, acusa Wise, são também usados para garantir, no Brasil, os pagamentos necessários ao negócio do tráfico." Estes, como todos os outros fatos então expostos a Hamilton, esclarece Wise, são resultado de testemunhos dados sob juramento, obtidos pelo próprio ministro americano. Este ilustra suas acusações com casos concretos e expõe, minuciosamente, como agiram os navios americanos "Agnes", "Montevideo" e "Sea Eagle", todos eles envolvidos no tráfico africano.
As peripécias desses três navios demonstram claramente o mecanismo do tráfico, envolvendo não apenas americanos, portugueses e brasileiros, como também firmas e negociantes ingleses no Brasil. Eis o que relata Wise:
"O 'Agnes' foi construído em Filadélfia. Chegou ao Rio com cartas dos proprietários americanos autorizando seu capitão a procurar nessa cidade agenciadores para a sua venda. A firma inglesa H. Wietman, através de seu dirigente, Mr. Wietman, ofereceu-se para negociar a venda desse navio. Essa venda foi transacionada com Manuel Pinto Fonseca, um indivíduo cuja ocupação de traficante de escravos africanos é 'notoriamente conhecida'. O 'Agnes' deveria dirigir-se a Liverpool e carregar lá produtos ingleses. De Liverpool, via Rio de Janeiro, tinha ordens de rumar para a costa da África. Saiu em 30 de outubro de 1843 dos Estados Unidos com destino