a Liverpool, lá permaneceu vários meses atracado e sendo pago mensalmente enquanto aguardava o momento de ir para a África.
O agente britânico do navio, no Brasil, recebeu sua comissão no negócio, e os representantes americanos também a receberam, para garantir o pagamento mensal estipulado no trato, e remetê-lo aos Estados Unidos.
Por volta de 5 de dezembro de 1843, o "Agnes" chegou a Liverpool. Carregou pólvora, mosquetes, piche e outros artigos conhecidos na Inglaterra como "artigos da Costa". As cartas capturadas no "Sooy", outro navio acusado de fazer tráfico de negros, mostram claramente a natureza e o destino destes artigos. Em 3 de janeiro de 1844, o "Agnes" zarpou para o Rio, consignado a negociantes americanos nesta praça. Entrou aqui "em franquia" e não descarregou, mas, neste porto, recebeu ordens de seu novo senhorio, o traficante Fonseca. Tendo demorado apenas dois ou três dias no Rio, zarpou em seguida o "Agnes" para Montevidéu, e de lá para Cabinda, África, despachado a um tal sr. Cunha, conhecido como preposto de Fonseca.
Em Cabinda, o "Agnes" descarregou uma parte da sua carga, e dali velejou para o rio Congo, e aí descarregou completamente.
O "Agnes" permaneceu por seis meses na costa da África, fazendo mais duas viagens entre Cabinda e o Congo. Seu capitão, então Eugene Godet, faleceu na África e o imediato assumiu seu comando. Entrementes, outro navio envolvido na mesma transação, o brigue americano "Montevideo", aportava no Rio, consignado a outra firma americana diferente da que negociara o "Agnes". O capitão do "Montevideo" trazia instruções para usá-lo no tráfico africano, vendendo seu brigue no Rio para ser igualmente entregue na África ao representante do comprador.
A firma americana envolvida nesta segunda transação também usou o mesmo agente britânico, Mr. Wietman, que por sua vez negociou o "Montevideo" com Fonseca, no Rio de Janeiro(51). Nota do Autor
Ficou acertado que o navio carregaria mercadorias não suspeitas para a África, ao preço de 900 dólares-prata (pesos espanhóis), e que levaria a bordo certos passageiros embarcados no Brasil, cujas despesas seriam pagas por Fonseca. Esses "passageiros" embarcaram em Vitória.
Vários documentos revelam que as transações eram feitas em dólares espanhóis de prata, porém a carta de contrato da barca "Pons", feita no Rio de Janeiro em 5 de julho de 1845, reza explicitamente na cláusula 10: "Qualquer dos contratantes, deixando de cumprir este contrato, pagará ao outro a soma de seis mil dólares espanhóis". Esse contrato é assinado por John Graham, capitão da barca "Pons" e o comerciante João Antônio de Miranda, associado de Manuel Pinto da Fonseca(52). Nota do Autor
Em fevereiro de 1844 o "Montevideo" alçou velas no porto do Rio, mas com carga apropriada para o tráfico, levando a bordo passageiros portugueses e brasileiros, zarpando direto para Cabinda, onde a carga foi entregue ao mesmo sr. Cunha. Em junho ou julho de 1844 esse retornava a Vitória, Espírito Santo.
O terceiro navio americano, o "Sea Eagle", também estava envolvido nessa transação. Chegou ao Rio mais ou menos na mesma época, consignado da mesma maneira, através de Wietman, a Manuel Pinto Fonseca para "transporte legítimo de mercadorias", ao mesmo preço e condições dos precedentes, também para ser entregue na África ao mesmo Cunha.