Face a tantos detalhes fornecidos pelo próprio documento, não há muito mais o que comentar sobre a parte desempenhada pelos americanos no mecanismo do tráfico brasileiro recalcitrante.
Interessa apenas, para completar a linha de raciocínio inicial, lembrar o detalhe de que os negreiros brasileiros e portugueses iam à perfeição de possuírem firmas nos Estados Unidos, caso de Figueira and Company de Fortunato Figueira e outros cidadãos americanos naturalizados, com sede em Nova York(54). Nota do Autor
No despacho de 12 de agosto de 1839, William Hunter dá conta do caso do pedido de reparação da barca "Mystic", cujo capitão era Benjamim Clarke, e que foi detida na Bahia durante a revolução de 1837. Entre os anexos ao despacho de Hunter deve ter figurado originalmente cópia da carta de naturalização de Fortunato Figueira, cidadão português que comprou a barca americana "Mystic" em leilão, na Flórida, mandando-a reparar depois em Nova York(55). Nota do Autor
Esse último detalhe é mencionado no texto do relato diplomático, enquanto as outras explicações estão nos documentos anexos. Em Nova York, "Mystic" foi preparada para o tráfico e, posteriormente, essa mesma embarcação foi acusada como suspeita de estar engajada nesta atividade no Brasil.
Já foi esclarecido que o fato de os marinheiros envolvidos no tráfico serem despachados para julgamento nos tribunais dos Estados Unidos não significava que fossem, necessariamente, condenados por aqueles tribunais.
Da mesma forma, não foram tomadas, quer pelo governo de Washington ou por seu representante no Brasil, medidas realmente enérgicas contra firmas como John S. Gilmore e Cia., de Salvador, Bahia, Maxwell e Wright e James Birckhead e Cia., do Rio, todas firmas americanas implicadas no tráfico, e nas quais trabalhavam como sócios, ou empregados, cônsules americanos. Alexander Tyler, nomeado cônsul na Bahia em 1840, em correspondência trocada com Henry Wise, toda ela despachada em cópia ao Departamento de Estado, revela como principal consignatária de navios negreiros na Bahia exatamente a John S. Gilmore e Cia. Um particular interessante é o fato de o jovem Joseph Ray também ser sócio nesta firma. Como Joseph Ray pai, faleceu em 1849 a pessoa mencionada no documento como "o jovem Ray"; deve ser o filho do cônsul pernambucano que fora acusado de envolvimento nas revoluções de 1817 e 1824(56). Nota do Autor