Desafio americano à preponderância britânica no Brasil: 1808-1850

O cônsul Alexander Tyler foi levado a se demitir de John S. Gilmore e Cia. em 1845. Vários casos de navios suspeitos de tráfico, tais como o brigue "Sooy", a barca "Washington", e o brigue "Albert of Boston", exibiram de tal forma o escandaloso comportamento da firma Gilmore, que o ministro americano compeliu seu cônsul em Salvador a explicar-se e finalmente demitir-se da firma em questão.

A situação dessa firma era, porém, muito complexa e o envolvimento de cônsules americanos não se limitou a esse caso específico do cônsul Tyler.

Em 1838, quando o velho cônsul geral americano da Bahia, Woodbridge Odlin, faleceu G. R. Forster, anteriormente cônsul em Pernambuco, assumiu aquele posto consular. Forster era também sócio da John S. Gilmore na firma John S. Gilmore e Cia. da Bahia(57). Nota do Autor

No ano seguinte, no Rio de Janeiro, o cônsul português João Batista Moreira foi demitido sob acusação de ser agiota dos negreiros. Um novo cônsul, de nome Manuel Figueira, foi nomeado para o posto. Medidas como estas não representavam, porém, garantia de que o tráfico deixasse de contar com o apoio de negociantes muito bem postos em funções diplomáticas(58). Nota do Autor

No entender de Wise, eram extremamente maleáveis aqueles que dominavam o tráfico. Suprimentos enterrados na areia, compartimentos desmontáveis para escravos e uma série de outros estratagemas eram usados para que o lucrativo comércio continuasse a atrair novos adeptos. Além do mais, argumentava o ministro americano, para que punir pobres e ignorantes marinheiros quando os comerciantes britânicos exportam mosquetes e pólvora para a África, onde a guerra entre tribos produz escravos postos à venda, e comerciantes britânicos no Brasil financiam sua compras(59)? Nota do Autor

Todos os detalhes aqui apresentados revelam fatos a propósito da participação americana no tráfico, que apontam para duas realidades indiscutíveis. Uma delas é que o tráfico brasileiro atraiu individualmente tanto americanos como comerciantes ingleses, por um motivo fundamental: ele era exequível e lucrativo. Nunca é demais lembrar que tais circunstâncias foram propiciadas pela resistência americana às imposições britânicas.

Já que essa resistência permitia aos negreiros safarem-se da perseguição ao tráfico, resolvendo simultaneamente problema fundamental do seu ramo de negócio — o transporte —, o uso do

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