Desafio americano à preponderância britânica no Brasil: 1808-1850

tema importante para o estudo do período 1808-1850 em nossa história.

Dentro do panorama econômico brasileiro do século XIX, tendo a exportação — em lugar do investimento e da poupança — constituído a fonte determinante do rendimento nacional, os Estados Unidos, em seu papel de compradores dos nossos produtos em maior escala do que fornecedores dos seus próprios, bem merecem um estudo com vistas à reavaliação de seu papel na economia brasileira(2). Nota do Autor Empreendê-lo foge ao nosso propósito, mas ele pode e deve ser feito, já havendo, aqui, várias sugestões e suficiente evidência do quão revelador poderá vir a ser.

Apesar de haver terreno para a apreciação do desafio norte-americano à Grã-Bretanha também nessa direção, acredita-se que, a fim de melhor apresentá-lo num primeiro estudo da matéria, avulta em importância frisar o quanto o comportamento dos dois países no Brasil foi marcado pelo soprar de um novo vento de emancipação em todo o continente, que em sua trajetória lembrava o exemplo vivo norte-americano, anúncio precursor do fim da era colonial no século XVIII.

A penetração e o impacto desse exemplo na Europa, e principalmente na França, assuntos abordados no segundo capítulo, dão resposta à objeção de que as nações do Novo Mundo, ainda quando liberadas, continuaram a olhar para a Europa. Embora o fizessem muitas vezes com desconfiança, em verdade prosseguiram sempre de olhos voltados para o Velho Mundo, sendo que no caso do Brasil esta contemplação teria sido mais constante. Ainda aqui pode-se lembrar que no Velho Mundo encontrava-se a imagem marcante do Novo. Dominando-a, o pujante perfil dos Estados Unidos. Deformado, atacado, combatido; porém, lá estava ele: antes, durante e depois da Revolução Francesa, a revolução europeia que os historiadores erigiram em marco final de uma etapa da História da humanidade.

Por ocasião desta revolução, vinha-se, no entanto, já há algum tempo, considerando o domínio da Razão e do bom senso, como verdades às quais era necessário curvar-se o gênero humano, atitude que não só expunha e lembrava as limitações do Velho Regime, como também entre nós recolocava a questão de ser o Brasil parte do mundo colonial, um dos pilares do regime então recusado. A recusa do Velho Regime na França revestiu-se porém das características de um abalo estrutural, da mudança que desordenou,

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