Desafio americano à preponderância britânica no Brasil: 1808-1850

antes de reformar, mesmo porque assim o impunha a necessidade de destruir uma estrutura feudal, argumentação que se constitui no tema central da obra de Alexis de Tocqueville.

Desencadeado pela Idade da Razão, o impulso do comportamento de recusa ao Velho Regime não se circunscreveu à França, à Europa e nem mesmo à América ilustrada. Nem era ele tão somente apanágio dos que liam. Era constatação dos que sentiam, falavam e ouviam, vivendo a condição colonial quando ela não mais se ajustava aos seus interesses. Constatação de simples bom senso. Sem dramas e sem alarde: apenas realidade que não implicava necessariamente em desejo de revolução à francesa por parte das áreas coloniais.

O exemplo vivo dos Estados Unidos, sua Independência, a organização de sua sociedade liberal, sua forma de governo e sua prosperidade eram fatos oriundos das terrestres realidades. Aquelas mesmas para as quais ficou aqui evidente que os portugueses e brasileiros olhavam; por índole e necessidade, ideais às vezes inatingíveis, porém almejados apesar de tudo — eis o quadro onde os norte-americanos procuraram caminhos para levar avante seu desafio no Brasil. Desafiar a Grã-Bretanha, na porção mais expressiva da América do Sul, era também perturbá-la onde ela melhor se entrincheirava, munida com as armas do Velho Regime e escudada em compromissos da realeza europeia para cá transferida e aqui plantada com o auxílio britânico. O acato à presença da realeza em solo americano resultaria, talvez, de anuência que se prendia ao fascínio dos brasileiros, por índole sensíveis à autoridade envolta em uma auréola de "... garbo" ... "respeitabilidade" ... e "grandeza(3)..." Nota do Autor atributos, inerentes à monarquia. Não a prendia tanto uma crença arraigada na monarquia, como a adesão a uma fórmula política plausível e familiar, que deveria oferecer segurança onde cuidavam poder medrar a reforma e o progresso(4). Nota do Autor

Eis talvez um dos motivos por que as relações entre os Estados Unidos da América do Norte e o Brasil monárquico, apesar de variarem em seus estágios e matizes, conservaram sempre como característica fundamental a tornarem-na completamente distinta das relações com outros países, exatamente a particularidade de desenvolverem-se com menos atritos do que seria de se esperar; entre a Primeira República americana e a Primeira Monarquia europeia na América.

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