Desafio americano à preponderância britânica no Brasil: 1808-1850

Envolveram, entretanto, dois países americanos de expressão em seus respectivos hemisférios e, embora seus sistemas políticos emprestassem-lhes diferenças, propiciavam, a ambos, certa estabilidade política, não conhecida pela maioria de seus vizinhos. Havia ainda mais: tanto nos territórios de fronteira do Império brasileiro, como nos de além-fronteiras americanas, não se erguiam países fortemente estabelecidos ou capazes de ameaçar a integridade nacional de ambos. Se houve avanço ou ameaça, estas partiram tanto da República do norte como do Império brasileiro, principalmente contra antigas possessões espanholas.

A dessemelhança básica nos regimes políticos dos dois países, apesar de não ter sido obstáculo a relações no cômputo geral até cordiais entre ambos, não deixava de constituir foco de perturbação, pois ela se afigurava aos norte-americanos, capaz de poder comprometer seriamente a possibilidade de o Brasil encontrar seu destino e seu rumo no quadro da mística americanista, que eles, além de simbolizar, esforçaram-se por divulgar.

A exportação de fórmulas ideais, partindo dos Estados Unidos, e cujas soluções seriam tidas como capazes de serem moldadas aos mais diversos problemas da humanidade, transcendendo assim as fronteiras nacionais, tem sido objeto de relutante admissão de sua parte. Aponta James Fenimore Cooper, muito cedo, o comportamento de seus compatriotas nesse sentido, como não sendo proselitista: "We are not a nation much addicted to the desire of proselytizing", escrevera Cooper(5). Nota do Autor

A crença de terem uma tendência natural ao isolacionismo, talvez alimentada por esse tipo de pensamento, baseou-se inicialmente não tanto num desejo de separação da Europa, como no medo de que essa viesse "contaminar" os Estados Unidos. Tal conceito fez parte do pensamento do próprio Jefferson, "mente cosmopolita onde esta ideia lutava contra a de um senso de missão em favor da humanidade oprimida"(6), Nota do Autor conceito ligado à Ilustração.

Para Louis Hartz, embora se apresentassem como símbolos da revolução mundial no século XVIII, os americanos logo em seguida passaram a pregar seu afastamento da Europa, "dando a este feito um sentido não de proselitismo cristão, portanto universalista, porém, na realidade traduzindo um curioso separatismo quase hebraico"(7) Nota do Autor — separatismo que, no entanto, sonhavam estender ao resto do continente.

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