nele se contém a expressão absoluta da verdade testemunhada e vivida pelo autor.
Isto posto, peço permissão a V. S. para passar linhas abaixo a relatar os fatos conforme se deram, desde suas origens, as causas que os geraram e o desfecho que tiveram, e alguns detalhes intercorrentes.
Eis o relato: Em agosto de 1910, recém-destacado no Scout "Bahia", sob o comando do então Capitão-de-Fragata Francisco Mattos, vim a conhecer e fazer-me amigo do marinheiro de primeira-classe Francisco Dias Martins, paioleiro do navio. Era imediato do navio o então Capitão-de-Corveta Alberto Durão Coelho, e oficial de companhia o então Capitão-Tenente A. Segadas Vianna.
O marinheiro Dias Martins era um homem inteligente, estudioso e instruído, de curso secundário completo, descendente de família rica e prestigiosa do Ceará, donde era natural, e afilhado do Senador Lauro Sodré, do E. do Pará.
Homem franco, de caráter independente e altivo. D. Martins era um revoltado — não se conformava com o estado de semiescravidão em que viviam os marinheiros nacionais, sujeitos aos maus, desumanos e deprimentes castigos corporais, desde a chibata às palmatoadas nas nádegas, e impedidos de olhar, de cabeça erguida, para os superiores!
Sim, Sr. Cte. Alencastro Graça, naquele tempo o marinheiro não podia fitar o superior, sob pena de ser considerado insubordinado e como tal ser castigado com algumas 50 chibatadas!... Basta dizer que se se apresentasse na "amostra" de bordo (sic) com a pinha do fiel suja, ficava sujeito a palmatoadas ou chibatadas.
Os marinheiros procedentes de Escola (como era Dias Martins) eram sujeitos a 15 anos de serviço, ganhavam nove mil-réis por mês e tinham uma alimentação abaixo de péssima, sem possibilidade de reclamações.
Em esmagadora maioria, os marinheiros (mesmo procedentes de Escolas) eram analfabetos, como João Cândido, ou semianalfabetos. Nas Escolas o que se ensinava aos aprendizes era de preferência a estrutura dos navios à vela, desde a quilha ao topo do mastro. Quanto à ilustração literária, bastava que soubessem ler sem compreender, e somar, multiplicar, diminuir e dividir, sem definir!
Ora, Dias Martins, homem instruído e estudioso, homem franco, positivo e altivo, sentia-se revoltado contra o tratamento mesquinho