O próprio sr. Ministro da Marinha, então Almirante A. de Alencar, foi sabedor desse fato e, dias depois da chegada da Divisão ao Rio (23/10/910), esteve a bordo e falando à guarnição declarou que estava ali para ouvir e atender qualquer reclamação que lhe fizessem. Ninguém, porém, reclamou, pois os que tinham coragem para reclamar eram justamente os conspiradores e estes só queriam reclamar com armas na mão.
No dia 22 de 11 de 910, às 22h30min, deu-se o movimento de revolta. João Cândido, que de nada sabia, escondeu-se a bordo do "Minas", no interior do mastro. Dali lhe foram tirar, apavorado, os companheiros revoltados. Disseram-lhe então o que havia, e como ele era o timoneiro, devia ir para o leme, pois que o navio ia levantar ferros. Com isso o negro criou alma nova, e vendo que nada lhe sucederia de mau, vestiu a túnica do Almirante e por isso o apelidariam de "Almirante Negro".
Note-se. Quem deu o apelido de "Almirante" ao negro João Cândido, não foram seus companheiros marujos, e sim os repórteres de jornais, que, quatro dias depois da revolta, e já tendo ela terminado, conseguiram penetrar a bordo do "Minas" e aí vendo o negro com a túnica e o boné de almirante logo o batizaram com esse apelido.
João Cândido, a bordo do "Minas", era odiado por quase todos os companheiros, pois era um tipo adulador, chaleira dos oficiais, capaz de limpar-lhes com a língua a sola dos sapatos. Era um dos timoneiros de bordo, cousa que qualquer analfabeto podia ser, bastando conhecer, de cor, os pontos cardeais, colaterais e intermediários da rosa-dos-ventos, e sua divisões em quartas, meias quartas e quartos, o que qualquer menor colegial do início do curso primário pode saber.
O que ele tinha, melhor do que os outros timoneiros de bordo, era a prática de saída e entrada da barra do Rio, assim mesmo sempre dirigido pelo oficial de navegação.
Em viagem, João Cândido como os outros timoneiros, apenas sabia pegar no leme, e mantê-lo no rumo dado pelo oficial: N4NE — S4 3/4 SE — E 1/2 NE — W 1/4 NW etc. Ora, qualquer pessoa que conheça a rosa dos ventos (e até as crianças podem conhecer) e tome a roda ou a cana do leme, pode facilmente fazer o barco mudar de direção, seguindo o rumo que for ditado por outrem.