A Revolta dos Marinheiros, 1910

Vi quando ele, sentindo-se ferido, pôs a mão sobre o peito, cambaleou e caiu no convés, a ré, próximo ao camarote dos oficiais.

Ouvi-lhe as últimas palavras, que repetiu várias vezes, até que lhe faltou a voz: Bandidos! Miseráveis! Vocês matam um brasileiro homem! Miserav...!

E assim morreu. Quem o matou? não se sabe ao certo; foi um da guarnição — ou foram dois? Não sei, vi, porém que o cadáver apresentava dois ferimentos, um no peito, outro na testa(*). Nota do Autor

Ao alvorecer, os dois cadáveres foram mandados para o Arsenal — o do marinheiro fuzilado pelo tenente e o deste, fuzilado pela guarnição.

Fim

Um ex-marinheiro

P.S. Sr. Comandante Alencastro Graça, do relato sucinto que acabo de fazer, bem pode avaliar V. S. quanta cousa inverídica se tem dito a respeito da revolta dos marinheiros, e quanta cousa verídica se tem silenciado.

Haja vista o que se diz de João Cândido, dando-o como chefe do movimento que ele ignorou até o instante de deflagrar, e no qual só tomou parte por acaso, enquanto se silencia sobre a personalidade de F. Martins, o verdadeiro, o único idealizador do movimento que, com inteligência e precisão o levou à realidade, com êxito. Os sentimentos de lealdade, humanidade e dignidade de Dias Martins, são igualmente silenciados.

Quando ele se opôs a que o movimento deflagrasse a 1 de novembro, teve por fim evitar o massacre de oficiais e altas autoridades políticas, inclusive o presidente eleito. Ele contava em todos os navios da Armada, com companheiros decididos e numerosos, e sabia que deflagrado o movimento, em todos os navios os elementos revoltados dominariam a situação, não só pela surpresa do golpe, como pela eficiência bélica de que dispunham os conspiradores.

E na noite de 13 de novembro, quando ficou combinado que o movimento devia deflagrar depois do dia 15, disse Dias Martins aos companheiros que nenhum oficial devia ser sacrificado, salvo se, intimado a render-se ou a desembarcar, resistisse e acometesse

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