modificações no sistema de punições e no regime de trabalho vigentes, sob pena de verem destruída a cidade do Rio de janeiro.
Ante o pânico que alvoroçou o Congresso e, através da imprensa, a população, concluindo-se pela impossibilidade de haver uma reação que dominasse os rebeldes, em três dias a nação cedeu aos amotinados, sendo apressada uma anistia votada no Senado e na Câmara e sancionada pelo Presidente.
Os oficiais voltaram aos seus navios, naturalmente em clima disciplinar insustentável. Mas lentamente foram as unidades navais sendo desarmadas e afastados os elementos mais radicais. Era um processo que, a longo prazo, modificaria o ambiente de desconfiança, de suspeição, de expectativa de dias piores, que dominava oficiais e guarnições.
Foi quando novo movimento rebelde explodiu, no início de dezembro, este sem apresentar justificativa ou finalidade, no outro scout, o "Rio Grande do Sul", e no Batalhão Naval. Esperavam os amotinados receberem a adesão dos rebeldes de novembro, o que já não era possível nem desejado, à vista do desarme dos navios e do fato de sua principal exigência ter sido atendida: o fim dos castigos corporais.
Sem contar com qualquer apoio, o surto rebelde foi facilmente dominado e deu ensejo a reação violenta contra todos os amotinados, os de novembro e os de dezembro, sem que se atendesse a ditames jurídicos, lamentavelmente com aspectos de desforra.
Na realidade, a Revolta dos Marinheiros, que marcou dolorosamente a evolução definitiva da Marinha da vela para a da máquina, com sangue, degradação, indisciplina, criou, por outro lado, condições para que daí por diante houvesse maior preocupação em se adaptar o elemento humano naval às exigências modernas. Novo tipo de recrutamento, novas escolas, novos sistemas disciplinar e de trabalho, foram formando marinheiros aptos e capazes, moral e tecnicamente, de guarnecer a Marinha que se ia modificando aceleradamente, com o impulso dado por duas guerras mundiais e o tremendo desenvolvimento científico que se verificou a seguir.
Esta fase da vida da Marinha brasileira, de consequências tão transcendentes, tem sofrido, ao ser analisada e descrita, uma dupla deformação. Os oficiais, vítimas de agressões físicas, do rompimento brusco da disciplina a que estavam condicionados, de ataques candentes, injustos, desmedidos, oriundos do Congresso e da opinião pública comandada pela imprensa, ao narrarem e comentarem os