fatos ocorridos, ativeram-se principalmente ao que eles representaram de primitivo, de subalterno, de feroz, mantendo sempre atitude defensiva em relação à própria honorabilidade e à da Marinha. Não houve preocupação, e se houve foi muito pouca, de se estudar o que mediatamente teria causado aquela explosão, e se ela teria sido evitável. Não se estenderam a respeito dos possíveis benefícios que, dolorosamente embora, pudessem ter resultado como consequência.
Por outro lado, escritores de esquerda utilizaram a sublevação, puramente militar que foi, para transformá-la em um movimento popular. Dispunham de todos os ingredientes necessários: uma causa simpática (o fim dos castigos corporais); um núcleo de pessoas humildes chefiadas, pelo menos nominalmente, por elemento primário, semianalfabeto (e negro, isto poucos anos depois da Abolição, quando a cor da pele ainda tinha conotações de inferioridade), que se impuseram à Nação, mantendo inegavelmente atitude coerente e firme até obterem o que aspiravam, além da aprovação de seus atos pelo Congresso e pela opinião pública. Um jornalista, Aparício Torelli, ou Aporely, que dirigia semanário humorístico A Manha — publicou, há muitos anos, em tipo de folhetim de pé-de-página, descrição da revolta de forma insultuosa e falsa, deformando inteiramente os fatos, a fim de colocar todos os oficiais e a direção da Marinha em posição truculenta, ridícula e covarde. Posteriormente, em trabalho mais sério, outro jornalista, Edmar Morel, publicou livro com o sugestivo e apelativo título de A Revolta da Chibata, do qual foram tiradas algumas edições e que teve bastante repercussão; é correto em relação à exposição dos fatos como se deram, com base nos elementos de que dispunha, procurando até certo ponto ser imparcial. Dá, entretanto, especial ênfase, por motivos ideológicos, à criação de um herói popular na figura de João Cândido, o que empresta ao livro características panfletárias. Como obra jornalística, também não se preocupou em esmiuçar causas primeiras e longínquas que pudessem ter provocado o movimento, o que traria ensinamentos úteis para se evitar a repetição de fatos semelhantes.
Em janeiro de 1959, o Serviço de Documentação Geral da Marinha convidou o Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Alves de Oliveira Belo, brilhante historiador naval, para coordenar e escrever a verdadeira história das duas rebeliões de marinheiros, a de novembro e a de dezembro. O Clube Naval, na ocasião, em reunião do Conselho