PREFÁCIO
Do Exmo. Arcebispo de Cuiabá, D. Francisco de Aquino Corrêa, da Academia Brasileira de Letras
NÃO é a primeira vez que me pedem os missionários salesianos do Araguaia, apresente ao público livros da sua literatura indígena. Há justamente 20 anos, cheguei mesmo a escrever algumas linhas, destinadas a prefaciar uma HISTÓRIA DO BRASIL EM LÍNGUA DOS BOROROS. Não sei porque, não veio a lume obra tão interessante, mas as laudas então escritas, guardei-as, e são elas exatamente que me apraz hoje reproduzir aqui, nestas páginas de introdução, que novamente me solicitam, para trabalho científico de maior tomo, levado a bom termo por aqueles incansáveis pioneiros da fé e da civilização católica.
Naquele tempo vinha eu de visitar as suas colônias, sertanejas, em época de grande florescência, e de lá trazia o vivo desejo de que se revelassem ao mundo, não só os progressos catequéticos daquelas missões, eretas havia pouco em Prelazia, senão também as conquistas que em várias províncias da ciência, representava essa avançada do Evangelho em meio aos clãs duma nova tribo.
Assim foi que enfeixei as seguintes reminiscências, refloridas já hoje em outras tantas saudades.
"12 de julho de 1915, em pleno vale do Araguaia. Das margens do Barreiro, tributário do Garças, que ainda vermelhavam, ao longe, em afloramentos de taguá, enfiáramos direito pelo norte magnético, rumo ao Rio das Mortes.
Éramos poucos. À frente, uma fila de índios Bororos, arcos em punho e carcazes de flechas às costas, batia o trilho, abrindo, de onde em onde, a picada, em meio a taquarais e tucunzais agressivos. Atrás, o arrieiro, tangendo no conhecido compasso monótono, a pequena recova morosa, composta de três muares, cujas alcunhas ainda me ressoam aos ouvidos: "Pachola, Pacote e Pelintra". Lembra-me também