INTRODUÇÃO

COMO simples e despretensioso tributo à ciência, apresentamos um estudo etnológico e etnográfico, sobre os borbros orientais ou orarimogodógue, silvícolas cujo habitat é o vale do rio São Lourenço, desde suas cabeceiras na zona oriental do Planalto Central de Mato Grosso, até à sua foz no rio Paraguai.

São notícias colhidas paciente e cuidadosamente no decorrer de longos anos de nessa convivência com esses aborígenes.

Pelos meados do século passado, esta tribo numerosa e forte dominava vastíssimo território.

Ocupavam os bororos todo o leste e sueste de Cuiabá, o vale do rio São Lourenço e afluentes, águas da bacia platina; todas as terras banhadas pelo alto curso do rio Araguaia, Rio das Mortes e seus tributários da vertente amazônica. Conseguiram transpor o Araguaia e dominar vasta zona do Estado de Goiás. No sul alcançaram o rio Taquarí, Coxim, Aquidauana, Miranda e o alto da Serra de Maracajú, pondo-se em contato com os índios Terenos.

Esta é também a opinião do ilustre etnólogo Herbert Baldus que no seu livro Ensaios de Etnologia Brasileira, escreve supôs-se até agora que os bororos não tivessem chegado tanto ao sul, mas os Terenos que moram nos arredores de Miranda, contaram-me que, em tempos passados, frequentemente, as hordas dos bororos chegaram às suas aldeias, não lhes fazendo, porém, guerra, porque, como dizia o velho chefe tereno Naliki, "bororo é muito selvagem e não fica".

Os limites geográficos do território antigamente ocupado pelos bororos orientais podem, pois, ser determinados, mais ou menos, entre 15° e 20° de latitude sul, e cerca de 51° e 57° de longitude oeste de Greenwich.

Por habitarem esses aborígenes tão vastíssima região, outrora pouco e mal conhecida, foram-lhes dados vários nomes, pois julgou-se pertencessem a tribos diferentes. Aos que ocupavam as margens do rio São Lourenço, do alto Araguaia e seus afluentes, deu-se-lhes o nome genérico de "Coroados".

São os que hoje chamamos orarimogodógue, bororos orientais ou simplesmente bororos.