Os bororos orientais. Orarimogodogue do Planalto Central de Mato Grosso.

Para evitar confusão, convém observar que os coroados de que tratamos, não tem relação etnológica alguma com os índios do mesmo nome de outros Estados. São completamente distintos.

É provável que assim fossem apelidados por cortarem os cabelos em forma de círculo e levarem desse modo, no centro da cabeça, uma espécie de coroa, que, nos dias de festa e nas danças, enfeitam com plumas brancas e vermelhas.

Até os últimos anos do século passado, os índios espalhados pelo oeste mato-grossense, região do alto Paraguai e fronteira com a Bolívia, e de leste, os orarimogodógue eram considerados pertencentes a tribos distintas. Ultimamente, porém, ficou esclarecido e provado que os chamados bororos-coroados, de leste de Cuiabá, formam uma só e mesma tribo com os do poente chamados bororos da campanha e bororos cabaçais. Os componentes do grupo "bororos cabaçais", habitam as margens do rio Cabaçal e Jaurú, afluentes do Paraguai, e os do segundo ramo, "bororos da campanha", vivem nas imensas planícies do alto Paraguai e dos arredores de São Luiz de Cáceres, até além das fronteiras com a Bolívia.

O primeiro que supôs a identidade desses silvícolas, foi o geógrafo e sábio presidente de Mato Grosso, Barão de Melgaço, em 1851.

A exata identificação foi, porém, feita pela segunda expedição alemã ao rio Xingú (1887-1888), conforme importante relação deixada pelo dr. prof. Karl von den Steinen. Confirmou-a, ultimamente, o exmo. general dr. Cândido Mariano Rondon, cuja afirmação é de indiscutível valor. A este respeito o exmo. general escreve: "Ao poente existem outras duas tribos de índios mansos: a dos "bororos da campanha" que habitam a zona chamada Cebil e chegam até o Corixo Grande, e a dos "bororos cabaçais" que vivem nas regiões do Vau Seco até as margens do baixo Jauru. A leste vivem os bororos do Rio das Garças e do alto Araguaia; ao sul os mesmos bororos que habitam o rio São Lourenço, de sua foz até às mais altas cabeceiras".

Pode-se concluir que a descoberta das jazidas auríferas de Cuiabá, dando motivo à entrada e permanência dos civilizados no território dos índios bororos, conhecidos pelos primeiros bandeirantes com nomes diversos, separou a tribo em duas partes, ocidental e oriental. Desde, esse tempo ficaram sem relação alguma entre si.

Os ocidentais subdividiram-se, como foi dito; os outros, que se se chamam a si mesmos orarimogodógue, são os bororos orientais, dos quais vamos tratar.

Disto resulta que o vocábulo Orarimogodógue é sinônimo de Bororos Orientais.

A palavra Orarimogodógue é demasiadamente longa; pode-se reduzir a Orarimógo, deixando o sufixo -dogue- do plural, ou também somente Orári, como já é costume.

Que tenham habitado, algum tempo, a margem esquerda do Rio das Mortes e penetrado pela mesopotâmia, entre o Rio das Mortes e o rio Koluene, é provado também pela toponomástica aceita pelos

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