Os bororos orientais. Orarimogodogue do Planalto Central de Mato Grosso.

mapas oficiais do Brasil. Os afluentes da margem esquerda do Rio das Mortes, cuja localização aproximadamente determinamos em nossas repetidas entradas por aqueles desconhecidos sertões, levam, indiscutivelmente, nomes da língua dos orarimogodógue e provam que os bororos passaram algum tempo por aquelas paragens. Assim: Adugodogue-iáu, das onças morada; Po-re-ráka, água corre forte; Noiddóri, (rio do) morro das palmeiras: Antigamente, talvez, estendiam-se também ao sul pelo rio Paraguai, onde, parece, tinham entrado em relações com os otuque (tribo desaparecida da Bolívia). De Criquimontfort e Rivet encontraram semelhanças linguísticas entre elas. Desde uns cinquenta anos, o número dos orarimógo ficou notavelmente diminuído e reduzido também o grande território onde faziam suas correrias. Dois fatores constituem a causa principal: a pressão, do norte para o sul, de uma tribo inimiga que eles chamam de kaiamo (talvez caiapós ou xavantes) e do sul para o norte e de leste para oeste, da parte dos civilizados.

A causa da humanidade e da civilização, os princípios cristãos da fraternidade e da solidariedade social, impõem o dever de por um limite ao cerco, que ameaça sufocar esses silvícolas, agora inofensivos.

Seja-nos permitido dizer também algo sobre a pronúncia da palavra "bororo". Surgiu várias vezes a dúvida sobre a colocação da sílaba tônica desse vocábulo. Alguns pronunciam bororó. Para elucidar este ponto controvertido da etnografia indígena, não é fora de propósito dizer logo que os índios pronunciam "bororo", com acento no penúltimo "o", e não bororó.

Não há motivo para pronunciar o vocábulo em questão com acento na última sílaba. Tal pronúncia errônea vem de uma falsa interpretação de alguns civilizados, desconhecedores, como é natural, das particularidades das línguas indígenas. São frequentes, na boca dos orarimogodogue, os vocábulos bakoróro e bororo, que, nem sempre, tem a mesma acentuação.

Repetem nos cantos, amiudadas vezes, esses dois nomes.

Quando cantam, porém, eliminam a acentuação tônica própria das palavras e prevalece um acento único, que chamaríamos rítmico, incidindo sobre a última vogal. Assim, ao cantar, dizem: bakororó, bororó, aroé, ituboré, iporé, adugó, que no uso normal e legítimo, pronunciam: bakoróro, bororo, aróe, itubóre, ipóre, adúgo.

Os civilizados entenderam de colocar o acento sobre a última sílaba, por ouvirem repetir sempre, nos cantos, bakororó e bororó (duas palavras semelhantes ou iguais para os que não sabem a língua dos orarimogodógue). Cremos ser esta a razão por que apareceu o espantoso e malsoante bororó, com acento agudo no último "o", em vez da palavra paroxítona "bororo", que é a pronúncia exata.

É necessário acrescentar ainda que bororo não indica a tribo; este apelido foi dado erradamente, talvez, pelos primeiros brancos que se puseram em contato com esses silvícolas.

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