A lenda é perfeitamente conforme ao caráter bororo, que em qualquer coisa faz questão do "meu e teu", mas não parece explicar a origem do nome "Tugaaregue" anterior ao dilúvio, enquanto os personagens da mesma são posteriores.

A mesma lenda continua dizendo que as flechas não tinham as penas timoneiras e por isso não acertavam bem. Que fazer? Baitogogo resolveu o caso. Pegou um "jacomea cujagureu" (pano vermelho) e o pôs sobre os ombros; depois apanhou um "jacomea ecureu" (pano amarelo) e o colocou adiante, e se transformou em "nabure" ou seja um grande papagaio vermelho e amarelo, chamado Arara: assim tiveram as penas para as setas.

Da palavra Exerae, nem mesmo Akirío bororo Keggéu sabe dar explicações, porém nega-lhe o sentido de "fraco e forte", isto é: Tugaaregue = forte; Exerae = fraco.

Pelas lendas e pelos costumes, conclui-se que os Exerae são superiores aos Tugaaregue.

Seria interessante conhecer a lenda da origem dos dois partidos; mas não colhemos pormenores seguros, nem obtivemos explicações que satisfizessem à nossa curiosidade, embora tivéssemos interrogado insistentemente muitos índios e o mesmo chefe Ukeiwaguúo.

Soubemos somente, que, em tempos remotos, houve uma guerra entre as duas partes da tribo. Muitos pereceram naquelas lutas intestinas. Um dos chefes, denominado depois Mamuiauguexeba, "matador", indignou-se porque seus súditos não o atendiam e continuavam lutando entre si. Armou-se de um arco ornado com tiras de pele de onça, seu ascendente mais remoto, e se pôs a flechar os índios que estavam em brigas, matando muitos de ambas as partes. Os restantes fizeram paz entre si e continuaram a viver amigavelmente no mesmo povoado.

Em uma das lendas, narra-se de uma inundação geral, da qual se salvou apenas um orarimogodogueddo. Ele, porém, restabeleceu, entre os filhos, que teve de uma cerva, a divisão antiga e determinou que uns fossem tuguaregue e outros exerae.

SUBDIVISÕES EM CLÃS

Cada seção está subdividida em quatro wobe ou clãs, linhagens, estirpes, dinastias, tirando a própria origem de um animal (ou planta), considerado o ascendente mais remoto. Esse estípite é o totem, que ordinariamente dá ao clã o seu nome.

Estranha-se que os bororos tenham tal crença e se julguem descendentes de animais. A nós também isto nos preocupou e muitas vezes os interrogamos para compreender exatamente o que pensavam sobre tal assunto. Chamou-nos ainda a atenção o fato de matarem e comerem, sem escrúpulos, os animais que reconheciam como pais, avós e primogenitores. Do que conseguimos averiguar, podemos afirmar