História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

Sem maiores exigências gastronômicas:

"Il fault remplir noz estomacz

Soit de trippes ou de jambon
".

Comer era alegrar-se, criando o impulso lúdico: "Car de la panca vient la dance".

Cantava-se, dançando em ronda, na bonne compaignie:

"Dansons, ryons,

Sans nul soucy;

Chantons, bruyons,

Dansons, ryons,

Douleur fuyons,

Et paina aussi;

Dansons, ryons,

Sons nul soucy
".

Apenas 1543 imprime o La fleur de toute cuisine, de P. Pidoux, conselheiral, meticuloso, grave. Fora o domínio popular do Ventre, l'intestin côlon est roi, diz Victor Hugo, reinado gordo e farto de Gargântua e de Pantagruel, o vivez joyeyx do doutor François Rabelais, mais quantidade que qualidade, tripas assadas e caneca de vinho eram suficiências vitais, pour ce que rire est propre de l'homme. O Oriente habitua o paladar europeu com as especiarias capitosas, cravo das Molucas, noz e massa de Banda, pimenta e gengibre de Malabar, canela do Ceilão (Chapons au brouet de canelle). O açúcar da Sicília fora vencido pela produção da Madeira, Canárias, o inesgotável Brasil, as Antilhas surpreendentes. É desse tempo amável e convulso o dogma da carne assada no espeto constituir iguaria superior. Le meilleur rôti est le rôti de broche. As frutas frescas e secas cederam lugar às cristalizadas e depois aos doces de calda, combatendo o domínio milenar do alimento salgado. Em 1571 o cardeal Alexandrino, nipote do Papa Pio V (canonizado em 1712), hospeda-se no palácio do Duque de Bragança em Vila Viçosa, assombrando-se com abundância dos doces, canelas, ovos, especiarias, derramadas nos acepipes, pouco lautos ou esquisitos e na maior parte pouco agradáveis ao paladar, lamentava o cronista-secretário do Legado Apostólico, João Baptista Venturini, saudoso do sal.

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