Napoleão não sabia comer nem beber. Alexandre Magno e Júlio Cesar indigestavam e embebedavam-se, ruidosamente. Ceux qui s'indigèrent ou qui s'enivrent ne savent ni boire ni manter, dizia Brillat-Savarin. Passam, na gestão epulária, para a classe bastarda e truculenta de Gengis Khan, Átila, Tamerlão.
Inútil pensar que o alimento contenha apenas os elementos indispensáveis à nutrição. Contém substâncias imponderáveis e decisivas para o espírito, alegria, disposição criadora, bom humor. Como temos o argumento "científico" de comparar o homem aos modelos zoológicos, olhai como os animais se alimentam! Com lentidão e majestade, os tipos mais altos na escala. Pachorra, vagar deliciado, prazer ruminativo, olhos vagos, focinho ao léu. Nenhum come velozmente senão os inferiores, desarmados para a luta competidora, ratos, lebres, antílopes. Leões, búfalos, elefantes, gorilas, sabem comer! A urgência é inversamente proporcional à consciência da força possuída. Melhor é não comer que comer apressado, a menos que se esteja num self-service, tendo a companhia de um robô. A pressa não é apenas inimiga da perfeição. Foi feita por Satanás porque Deus não a criou. "God did not create hurry", diz Mrs Alec Tweedie ter ouvido na Finlândia. A pressa é do Demônio, acreditam os turcos. Lembrem-se que o sanduíche foi invenção de jogador viciado. Precisava não perder tempo para tê-lo aplicado às cartas do baralho. Curiosamente, as duas combinações absolutamente saborosas dos E. U.A. são o hot-dog e o sandwich. Inimitáveis.
Há uma campanha discreta e contínua contra a culinária desde que a considerem acima da nutrição orgânica, além dos limites do plano fisiológico. Os fatores puramente materiais da alimentação são os únicos que interessam à propaganda e ao debate especulativo. A absorção do alimento equipara-se ao abrir de uma torneira de óleo para a máquina ou algumas pazadas de carvão na fornalha da locomotiva. O essencial para manter o movimento. A máquina não escolhe seu combustível pelo sabor, mas pelo índice subsequente da pressão. Quem o regula não é o paladar mas o manômetro. As tentativas econômicas e técnicas do prato único nos refeitórios industriais são peças desse xadrez.
O desprezo instintivo pelo paladar e a distância desdenhosa pela serena alegria digestiva são "virtudes" dessa guerra desesperada ao alimento como prazer gustativo, trazendo as compensações do bem-estar. Es que todo ha de reducirse a reparar nuestras pérdidas en energia y en substancia? E nuestra sensibilidad, no