camping, leva-se farnel resumido ou afronta-se o encontrável, feito à granel, para qualquer apetite. Acaba-se perdendo a personalidade do paladar, sua fisionomia, exigências, predileções, simpatias. Habituam-se ao nível vulgar da comida vulgar e venal, rápida, atendendo aos reclamos imediatos do estômago.

Falta à mesa, à sacra mesa, como diziam os romanos, a ação catalítica daquela cerimônia tranquila que é uma refeição. Perde-se a continuidade na padronização do cachorro de qualquer temperatura e do sanduíche de qualquer coisa. Do sapiens ao qualunque.

Saint-Hilaire (41) Nota do Autor, há século e meio, observara em Minas Gerais: "Como quase todas as brasileiras que vira anteriormente, as senhoras de Itanguá tinham essa voz rouca, que, certamente, o hábito de mandar escravos faz contrair às senhoras desse país". As senhoras desse país não eram as únicas a mandar escravos. O mundo colonial inglês e francês terminou recentemente e os native servants nunca passaram dessa categoria servil pela Ásia e África. As damas de Sua Majestade Britânica e da doce França nunca enrouqueceram pelo exercício autoritário naquelas regiões submissas(*) Nota do Autor.

Pois, se as senhoras mandando escravas terminaram conseguindo a voz desagradável e gritona de feitor, a continuidade alimentar fora do ritmo consuetudinário favorece a suprema ambição político-administrativa do rebanhismo: a unidade da obediência pela unidade do paladar. Colégio, caserna e convento têm, nos refeitórios, um poder aglutinante e unificador de altíssima importância. É um elemento dispersador da verticalidade individual, problema para a sujeição coletiva. Comer junto é irmanar-se. "Com o pão", deu o companheiro.

A comida sumária, esparsa, indeterminada, fracionária, consegue a mesma solução pelo processo contrário: une pela divisão. Liberta do horário paterno e submete à pragmática implacável de outros relógios. Para evitar e combater o domínio familiar, os espartanos não encontraram melhor antídoto que a obrigatoriedade das refeições públicas, "andria" cretense, a fiditia dos lacedemônios, incluindo a presença infantil, segundo Plutarco (292) Nota do Autor. Debaixo do sol não há novidades, meu senhor.

Sucedendo à inalterabilidade do regime popular, o passadio das camadas sociais mais altas, diversifica-se, aberto a todos os sopros da modificação elegante e às sugestões da propaganda