História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

industrial. A sequência básica popular responde pela conservação de sentimentos e crenças que reagem dentro de ritmos emocionais da tradição. Os cimos dessa cordilheira humana constituem elevações isoladas e alterosas, reinando sobre a imensidade da planície mas sofrendo constantemente as mutilações desgastadoras da erosão, expostos às soltas ventanias de todas as influências.

Com quase cinco séculos de alimentação insuficiente, incompleta e desequilibrada, entre 2.500 e 2.700 calorias diárias, com déficit de 300 na normalidade do cômputo, o povo construiu tudo quando possuímos no desbravamento e conquista da terra sem-fim, plantando e conservando as culturas responsáveis pela manutenção e elevação da vida coletiva nacional. Os processos de melhoria para esse cardápio popular, novas fontes de nutrição ou reforço multiplicador de substâncias nas espécies utilizadas, darão novos padrões superiores de alegria, trabalho, capacidade de resistência, simpatia pelas tarefas de produção? Certamente outros problemas virão para o brasileiro sem fome crônica, com as três mil calorias infalíveis, eugenicamente entusiasta pela sua missão na terra imensa que lhe coube.

Creio ainda que os homens quando fazem da saúde uma deusa, com ídolo e rito, é porque devem estar profundamente doentes.

Era a manutenção alimentar o primeiro e o último cuidado humano. Desde o paleolítico os sepultamentos compreendiam armas para caçar e víveres para continuar a existência sobrenatural.

Depois, a parafernália da cozinha seguia o defunto, prevendo a elaboração dos acepipes fantasmas. No cemitério de Ur, na Caldéia, C. Leonard Woolley depara as vasilhas para o cozido, para o assado, vasos para as bebidas de cevada, suprimentos vegetais e mesmo animais inteiros, carneiros, bodes, de reserva prudente (295) Nota do Autor. As precauções na vida de além-túmulo exigiam pormenores severos. Informa Heródoto (296) Nota do Autor que os reis citas faziam enterrar no mesmo jazigo um copeiro e um cozinheiro. Nas câmaras mortuárias dos faraós eram, nas primeiras dinastias, sacrificados os fâmulos favoritos, principalmente o cozinheiro. Depois foram substituídos por estatuetas de argila. Visível a do cozinheiro real, de caçarola na mão, segurando uma ave ou quartos de antílope. Semelhantemente na China. Vítimas humanas simbolizadas pelos simulacros em gesso ou madeira, vestidos de seda, com os atributos característicos. Os soberanos negros de Gana

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