História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

ter o cozinheiro caldeu incendiado o templo de Jeová para preparar um lauto almoço ao seu Senhor(273) Nota do Autor:

"Succendit Nabucodonosor cocus ardua templi

In Solimis, regi dum prandia lauta pararet
".

Pela África essa tradição foi natural. Em Cabinda o Gimbi Lambi, cozinheiro do Rei, era homem temido e temível. Entre os deuses jejê-nagô, a cozinheira dos orixás, Yyá Bassê, é influente e citada nos candomblés da Bahia. Maguiguana, grande chefe de guerra do Gungunhana, a quem Liengme denominou the last South African potentate, fora cozinheiro de Muzila, pai do Rei negro, e depois general do filho e comandante das mangas, das empis, que se bateram obstinadamente contra Mouzinho d'Albuquerque. Aprisionado em Chaimite, dezembro de 1895, o Gungunhana foi exilado para os Açores. Maguiguana continuou a luta até a morte em Mapulanguene, Moçambique, agosto de 1897, com as armas na mão, como um bravo. Gungunhana faleceu em Angra, 1906, soberano deposto. Seu vencedor, Mouzinho d'Albuquerque, suicidara-se em janeiro de 1902. Maguiguana, ex-cozinheiro, mereceu do narrador da epopeia(274) Nota do Autor o elogio que só concedera aos seus patrícios: "Estava morta a revolta de Gaza e o chefe cuja bravura era lendária desde o Incomati à Muçapa, o grande cabo-de-guerra dos vátuas, do Gungunhana, o landim invencível, morrera a morte d'um valente, defendendo-se até a última." Certo é que as panelas do Muzila no Utengo não haviam enfraquecido a energia máscula do guerreiro Maguiguana, bem mais humano que Olivier le Daim, barbeiro ministro de Luís XI.

Os cozinheiros persas e chineses influíram muito mais no ânimo do Rei que os solenes sátrapas e mandarins. O chefe da cozinha do Egito faraônico era quase um ministro de Estado. Houve Reis cozinheiros na Índia. Os soberanos de Gana e do Benin faziam-se acompanhar de seus cozinheiros quando morriam.

A tradição ocidental, grega e romana, era a projeção do liberto, antigo escravo de intimidade confidencial, atingindo os altos postos da administração. No Oriente partia a confiança na pessoa dos eunucos e aqueles que faziam a "comida do Rei". Com a fórmula das guerras resolvendo os problemas de governo, tipicamente do século V em diante, os combates ou a preparação das campanhas e sua execução, consagravam outra classe de servidores. Não foi mais possível o destino de outro Nabuzardan, ou Nabu-seri-indinnam das placas de argila de Babilônia. O cozinheiro não mais acompanhava o Rei nas expedições guerreirase viagens de inspeção arrecadadora. Substituía-o outra profissão

História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação - Página 24 - Thumb Visualização
Formato
Texto