História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

seca e rija como de peru velho. Blest y Gana dizia ser a peça clássica nas ceias do Chile.

As larvas de certas palmeiras foram, não alimentos regulares, mas gulodices favoritas em grande área do Brasil, de Minas Gerais e São Paulo ao Pará-Amazonas, consumidas sem oposição e mesmo fornecendo recursos culinários para portugueses e brasileiros de alguma abastança econômica.

Em 1560, Anchieta falava em certos bichos roliços e compridos que viviam nas taquaras, denominados rahu, comidos assados ou torrados. Faziam "com eles um guisado que em nada difere da carne de porco estufada." Identificaram como formas imaturas da mariposa Pyralidae, Myelobia amerintha, com três espécies que não podiam gerar ratos, como julgava o santo jesuíta(132) Nota do Autor. SaintHilaire(41) Nota do Autor encontra essas larvas em Minas Gerais, acepipes e também narcótico indígena, e delas os portugueses faziam, derretendo-as, um tipo de manteiga. Saint-Hilaire achou-as deliciosas: "Partia o animal, tirava-lhe com cuidado a cabeça e o tubo intestinal, e chupava a substância mole e esbranquiçada que ficava por debaixo da pele. Apesar de minha repugnância, segui o exemplo do jovem selvagem, e achei nesse manjar estranho um sabor extremamente agradável que lembrava o do creme mais delicado". Seriam lagartas do gênero cossus ou hepiale.

Assis Iglésias registro-as como manjar apreciado no interior do Maranhão em 1915; larvas da palmeira bacaba (Oenocarpus bacaba, O. distichus), saboreadas fritas ou cruas. Semelhantemente às da palmeira babaçu (Orbignya martiana). "Ao ser frita desprende azeite igual ao que sai do próprio coco. Comem-na adicionando-lhe farinha de mandioca"(228) Nota do Autor. Assadas no espeto viu na Bahia Wied-Neuwied(42) Nota do Autor. Saint-Hilaire escrevia: "Vários portugueses consideram-no igualmente um prato delicioso. Quando essas larvas apareciam, o comandante Januário mandava derreter uma grande quantidade delas, e guardava sua gordura para empregá-la à guisa de manteiga"(41) Nota do Autor.

Descendo para o Sul, a larva foi perdendo, ultimamente, seu conceito utilitário e as existentes nos intérminos carnaubais (Copernicia cerifera) nunca mereceram interesse por todo o Nordeste, notadamente Ceará e Rio Grande do Norte, onde essas palmeiras são nativas e abundantes. Em vez de chorar por mais, como no Maranhão, o sertanejo toma-se de nauseada repugnância. Todos os viajantes do Brasil caboclo, do século XIX e primeiras décadas do XX, mencionam as larvas mastigadas gulosamente no Pará, Amazonas, Mato Grosso, pelos indígenas. Não pude apurar seu consumo nas populações mestiças do Setentrião

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