e Centro. O major Costa Pinheiro(156) Nota do Autor disse-me que tinham sabor de palmito fresco as provadas no sertão de Mato Grosso.
No tratado de P. Lepesme(294) Nota do Autor, J. Abesquière dedica algumas páginas aos insectes palmicoles comestibles, coleópteros, habituais às margens africanas do Atlântico e do Índico. Não conheço bibliografia brasileira.
Contendo cálcio, fósforo, ferro, proteína, essas larvas são infinitamente superiores às que pululam em certos queijos franceses, de clássica preferência gastronômica. Como elemento de emergência nutritiva possuem referência probante, antiga e nova, de viajantes perdidos e vagantes nas matas (Miguel Sanka, Mato Grosso, 1909), e mantidos com as larvas e o providencial auxílio das castanhas-do-pará (Bertholletia excelsa). Quatro anos, afirma ter vivido um negro na ilha do Ano Bom, no arquipélago do Cabo Verde, sem lume, comendo-as cruas, dentro de pão podre de palmito(293) Nota do Autor, proeza realizada à volta de 1496-1501.
Os consumidores de larvas na população nacional estão rareando e sem que transmitam aos filhos o costume. Resta a fidelidade indígena.
A tanajura, fêmea da Atta sexdens, não se despojou inteiramente da fama que era nacional. Ainda a comem, crua, torrada ou passada n'água quente, os abdomens gordurosos, talqualmente ocorria no século XVI, com todos os gabos. Desapareceu dos mercados públicos de São Paulo e de São Luís do Maranhão e o prestígio consumidor está na décima parte de outrora.
Continuam em quantidade as larvas e tanajuras mas há um notável declínio como guloseima popular. É uma presença indígena, pura, secular, primária. Os escravos negros nunca foram devotos da barriga da tanajura como ainda são os aborígines do Brasil central e setentrional, contemporâneos. Preferiam os pretos as larvas, como faziam na terra natal. Creio que o ácido fórmico agradava ao indígena como ao mestiço pelo seu sabor semiardente, estimulador e visto por Bates aplicado aos molhos amazonenses. Leve sensação salgada e capitosa pelo olor da especiaria. E era uma pequenina dose proteínica.
Permanece a formiga saúva como remédio para os olhos, consumindo-as in natura, ou piladas, infusas n'água quente, para banhar a parte inflamada. Resiste mesmo a frase denunciadora do emprego terapêutico quando alguém, inadvertidamente, engole uma formiguinha de doce: "formiga é bom para a vista".