comia lá dentro, com a dona da casa, mão no prato, em cima da esteira de carnaúba ou piripiri, um junco aquático.
Não dar as graças (a Deus) seria insolência reprovável, comparada ao não saudar o anfitrião, insalutado hospite em Roma, crime sem perdão na regra dos bons costumes. Assim procediam bichos do mato e não homens do mundo.
Nos grandes banquetes oficiais, mesmo na capital da República, depois do brinde de honra, arrastando-se a cadeira para sair, saudavam os companheiros próximos, inclinando a cabeça.
Era a lei do tempo.
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O mata e come, ouvido em Joppe por Simão-bar-Jonas, "que tem por sobrenome Pedro", permite uma interpretação eminentemente contemporânea e popular em matéria de alimentação.
Todos os alimentos vegetais são, para o povo brasileiro, complementares e apenas essenciais como responsáveis na formação do bolo digestivo. A forca, substância, potência, vivem na carne, carne que tenha sangue quando viva, abatido o animal com a intenção de constituir vitualhas.
Há uma visível e tradicional repugnância para a carne de animais mortos, acidental ou inexplicavelmente encontrados sem vida. Dizem então aproveitar, subentendendo-se a evitação do prejuízo total. Nem todos a comem. "Bicho morto é para urubu." Jamais valerá a mesma carne adquirida no açougue ou vinda de animal cuja morte foi presenciada.
Proibia o Deuteronômio (14, 21), com prudente ressalva: "Não comereis nenhum animal morto; ao estrangeiro, que está dentro das tuas portas, o darás a comer, ou o venderás ao estranho, porquanto és povo santo". Maomé repete o interdito para os muçulmanos (Al-corão, surata 6, v.146), mantida a versão fiel do Prof. Montet: Diz: "Je ne trouve pas, dans ce qui m'a été révélé, d'autre défense, pour celui qui veut manger, que les (bêtes trouvées) mortes, ou le sang qui a coulé, ou la chair de porc, car c'est une abomination"(299) Nota do Autor.
Africanos e amerabas não têm, de modo nenhum, esse escrúpulo. Os pretos desarticulam e devoram totalmente os grandes animais deparados mortos, rinocerontes, hipopótamos, búfalos, elefantes, mesmo já iniciados pelos leses ou hienas. Associam-se ao butim sem cerimônia alguma. O indígena afasta a concorrência das onças para disputar a carniça das antas, veados, porcos-do-mato