a tradição é portuguesa e ainda respeitada nas populações do interior e menos na região meridional onde o churrasco às vezes verte sangue, embora Saint-Hilaire o tenha dito espécie de beef-steack suculento(137) Nota do Autor.
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Um capítulo a fixar na história de nossa medicina, culta e popular, é o referente à dietética tradicional. A clássica, básica, e também os processos modificativos, as supressões, aprovações, transformações. O que era aconselhado e permitido ao enfermo comer e o que se proibiu e consagrou até o presente. Uma viagem fascinante nessas substituições e repulsas, de acordo com a grave ciência da época em que os maiores não ficam independentes. Quando os doentes comiam porco e pepinos. Leite, vetado. Ovo, mortal. Tratamento a mel de abelhas, remédio e alimento. Carne de víbora, miolos de coruja, sangue de corvo. A dieta de Galeno e dos médicos medievais, enfrentando a aegrotatio, fundamento do faz mal para o povo de agora.
A dieta nas epidemias e endemias. Rosa, Mourão, Pimenta, em Pernambuco(304) Nota do Autor. Das feridas e envenenamento. A galinha terapêutica. O frango da botica. As comidas para anorexia, inapetência. Para cinorrexia, fome canina. Para o ramo de ar. Malenconia e cisma.
Para não andar muito, bastaria a jornada no Brasil, do XVI ao XX séculos. Seria evocar a cultura médica portuguesa, no plano vulgar, ainda ritualística, pragmática, astrológica. Colaboração de excretos. Medicina de Amato Lusitano, comentador de Dioscórides, Rodrigo de Castro, Zacuto Lusitano, Curvo Semedo, Bernardo Pereyra, Brás Luís de Abreu, decidindo suficientemente sobre dieta que ainda resistem na simpatia brasileira. Não apenas referentes aos alimentos, defesos e consentidos, mas às precauções da luz solar e lunar, excesso do som, perigos excitadores de enxergar mulher. A dieta seca. Quando os tratados eminentes tinham nomes de Correção de Abusos (1668), Atalaya da Vida (1720), Âncora Medicinal (1721), Anacephaleosis Medico-Theologica-magica-juridica-moral e política (1734), impondo respeito pelo enigmático enunciado...
Elementos imemoriais de experiências e intuições venerandas, vindos dos milênios, estão esperando a identificação do pesquisador, evidenciando que essas abusões são reminiscências valiosas do rejume médico do Passado. Autênticos como o próprio vocábulo rejume, trazido de Portugal no século XVI.